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domingo, 24 de junho de 2012

A coerência da diplomacia brasileira é errar sempre (JN)


Coluna Augusto Nunes

23/06/2012
 às 12:43 \ Direto ao Ponto

Se pedir socorro aos vizinhos trapalhões, Lugo pode acabar na embaixada brasileira como gerente da Pensão da Dilma


Fernando Lugo (à esquerda) e Manuel Zelaya

Afastado da presidência do Paraguai pelo Congresso, Fernando Lugo prometeu recorrer à Justiça para recuperar o cargo. Os deputados e senadores entenderam que o chefe do Executivo fez o suficiente para perder o emprego. Lugo acha que não. Se for acionado, o Judiciário decidirá a pendência. Por enquanto, foram respeitadas as regras constitucionais. Melhor assim.
Pelo menos até agora, a vítima do impeachment resistiu à tentação de pedir a ajuda dos vizinhos. O venezuelano Hugo Chávez está permanentemente à disposição dos companheiros aflitos. E Dilma Rousseff, como revelou o blog de Lauro Jardim, ordenou ao chanceler Antonio Patriota que falasse grosso com os responsáveis pela demissão do parceiro paraguaio.
Se tiver juízo, Lugo se limitará a brigar na Justiça. Em 2009, o mundo inteiro viu o que acontece quando a turma do Lula e o bando do Chávez resolvem socorrer em parceria um parceiro em apuros. O plano concebido pelos trapalhões beligerantes deveria devolver à presidência de Honduras o neobolivariano Manuel Zelaya, destituído pelo Poder Legislativo com o endosso da Suprema Corte. Deu no que deu.
Zelaya voltou clandestinamente a Tegucigalpa, hospedou-se na embaixada brasileira, transformou o prédio na primeira Pensão do Lula e ficou à espera das tropas prometidas por Chávez. Só deixou o estabelecimento depois de 125 dias. Em vez da faixa presidencial no peito, levava na cabeça o chapelão  que simulava uma coroa de destronado. Se seguir o exemplo do colega hondurenho, Lugo pode acabar na gerência da Pensão da Dilma.
Os executores da política externa lulopetista jamais abriram o bico, por exemplo, sobre as abjeções colecionadas pela ditadura cubana, nem sobre os chiliques autoritários da viúva argentina que herdou a Casa Rosada, muito menos sobre o desmoronamento da democracia venezuelana. “O Brasil respeita a soberania nacional”, recitava Celso Amorim e recita agora Antonio Patriota para justificar a diplomacia da cafajestagem. O mantra perde a validade quando algum companheiro perde o poder.
Como ocorreu em Honduras, o Congresso paraguaio afastou o presidente amparado em normas constitucionais. Fez com Lugo o que faria com Fernando Collor o Legislativo brasileiro se o presidente que desonrou o cargo não tivesse renunciado pouco antes da destituição inevitável. O Planalto tem tanto a ver com a queda de Lugo quanto o governo paraguaio tinha a ver com o afastamento de Collor.
Como pôde acontecer uma coisa dessas em apenas dois dias?, choramingam os órfãos brasileiros do reprodutor de batina. Os paraguaios é que deveriam perguntar-se como pode o Brasil esperar sete anos pelo julgamento dos quadrilheiros do mensalão. Ou instaurar uma CPI que, depois de dois meses de tapeações, vigarices e patifarias, faz o que pode e o que é proibido para garantir a impunidade dos bandidos.