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domingo, 6 de maio de 2012

UMA GRANDE AULA DE SENSATEZ

Meu Prezado Amigo Gobbo:
Por General Marco Felício da Silva
Sou apreciador de seus escritos, principalmente, pelo cavalheirismo que perpassa por todos eles. Confesso que não consigo escrever com o mesmo refinado estilo. Sou, infelizmente, muito direto e, por vezes, contundente.
É com consideração e amizade (e admiração) que me permito apresentar-lhe, publicamente (como o fez), não um melhor juízo, porém, simplesmente, um outro juízo sobre os fatos que elenca em seu documento “Meu Querido Primeiro Chefe”.Sem dúvida, a sua preocupação é a mesma de um sem número de militares que, embora pensem de forma diversa, têm a alma como a sua. Creio que das melhores intenções todos nós estamos imbuídos, inclusive os nossos chefes da Ativa. Entretanto, há que se ter a humildade para reconhecer que nenhum de nós é infalível.

Temos que nos guiar pelos resultados obtidos os quais dependem das decisões de quem está chefiando. E tais resultados atingem a todos nós, Ativa, Reserva e reformados. Daí o foco centrado no Comandante. Certamente é próprio da honrosa e dura missão de comandar a Força.

Diz Você que “imagina”, pois,“ninguém sabe exatamente o que se passa nos corredores palacianos”, ”, que ele se submeta “a constrangimentos que não precisaria mais sofrer e suportar pressões angustiantes.
Meu caro Amigo Gobbo, quanto a constrangimentos não acredito que os passe, pois, se trata do Comandante do Exército e quem convive com Êle sabe que o mesmo não os  aceitaria passivamente, calado. Não é próprio da dignidade militar. Há que se impor e se fazer respeitado. Quanto às pressões, são inerentes ao cargo, o qual, como qualquer outro de importância, tem bônus e ônus respectivos.
Não concordo com o Meu Caro Amigo, quando diz que  
"Por razões absolutamente fora de nosso alcance, a Nação aproou para a esquerda”. 
Eu diria que a maioria da população, aproou à esquerda. A maioria da população sempre foi e será massa de manobra, devidamente manipulada. E está sendo manipulada por aqueles que ocuparam o vácuo de poder que deixamos em aberto com a nossa saída, consentida, da cena política brasileira, em nome de uma profissionalização, inventada pela esquerda (o politicamente correto), e que a nossa “Política de Mudez” e de agrado aos áulicos do poder, aceitando um “low profile”, só faz aumentar.
Transcrevo, abaixo, palavras de um estudioso altamente considerado no meio dos pesquisadores das Ciências Políticas, ensinamento que considero muito valioso para nós militares que vivemos a atualidade brasileira. Ele se refere à estratégia da conquista do poder pelos “socialistas” radicais:
“” De que lado está a maioria da população? Certamente perdida, disponível para quem chegar primeiro. A maioria está confusa, vagando de um lado para o outro, dividida entre visões de mundo conflitantes. Ela pode pender para qualquer lado. Durante suas inúmeras batalhas faccionárias, dentro do movimento marxista, Lênin, certa vez, escreveu que há dois grupos batalhando, cada um deles formado pela minoria da população, sendo que a maioria está no centro e é formada, justamente, pelas pessoas confusas que constituem o que chamou de “O Brejo”. Estas pessoas estão no terreno na qual a maioria das “batalhas” será disputada. E a metáfora é corretamente militar. A batalha iminente é muito mais ampla e profunda do que apenas discutir alíquotas de impostos. Trata-se de batalha de vida e morte pelo formato de nosso futuro. Daí se compreende o frenesi que acomete à esquerda sempre que uma medida “reacionária” parece ser favorecida pela sociedade. Portanto, o combate requer, principalmente, coragem e nervos para não se dobrar perante as totalmente previsíveis reações caluniosas e difamantes dos oponentes. Acima de tudo, o objetivo não deve ser o de se tornar querido e bem aceito pelos progressistas ou pela “Mídia respeitável”. Tal postura irá gerar apenas mais rendição, mais derrotas. Igualmente, o objetivo não é apenas o de fazer retroceder o Estado Leviatã”, sua cultura niilista e estas pessoas que querem se apossar do Estado e impor sua agenda sobre nós. O objetivo tem de ser a eliminação completa e irreversível deste monstruoso sonho de um Perfeito Mundo Socialista, gerido por “pessoas de bem”.” ( Murray N. Rothbard -1926-1995- Decano da Escola Austríaca)
Concordo com Você quando afirma que a missão do gen Enzo é muito difícil debaixo das atuais circunstâncias, circunstâncias essas que vêm se perpetuando ao longo dos anos, pois, proteladas, sob as mesmas razões e sem qualquer solução. Não seria tal protelação originária da maneira pela qual têm se conduzido os diversos comandantes militares, ignorando a forte influência política que poderiam exercer pelo papel que as Forças desempenham no cenário nacional e pela confiabilidade que a Nação deposita nas mesmas?
Qual a causa da “Política de Mudez” permanente, quando a comunicação interativa, no mundo moderno, em todos os setores, é intensa? Tal política faz com que a Nação desconheça o que pensam os altos chefes militares sobre os graves problemas que afetam o País, incluso, quanto à fragilidade das Forças correlacionada às suas responsabilidades constitucionais. 
Está se tornando norma a citação de que há necessidade de um ministro da Defesa civil (veja a última entrevista a “ISTO É” do Ministro Celso Amorim) para que haja uma real interlocução com as mais altas autoridades governamentais de modo que os problemas das  Forças Armadas sejam conhecidos e resolvidos. A adoção do “low profile” levou os comandantes militares a ocuparem um escalão de governo subalterno, sem acesso direto ao Presidente da República e sem terem voz quanto à solução dos problemas nacionais, inclusive, os que afetam a soberania nacional. Cito dois simples exemplos: Demarcação da Reserva Raposa/Serra do Sol e aprovação, na ONU, da “Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas”.
 “Cada um pode bem imaginar a seu modo, mas, condenar o Chefe sem esse conhecimento é, no mínimo, uma flagrante injustiça, à qual jamais me associarei.”   
Creio que discordar e criticar positivamente, sem ofender ou menosprezar, não é condenar.  É direito daqueles que, por mais de 40 anos, vivenciaram o Exército com extrema e exclusiva dedicação e querem vê-lo numa melhor situação, compatível com a projeção do Brasil no mundo atual e capacitado a desempenhar suas atribuições. Não somos mais, pela idade, os soldados profissionais de ontem, mas continuamos como soldados cidadãos, tendo a pele como farda. Somos aqueles que têm a consciência dos seus direitos e deveres políticos, que se interessam e se sentem, ainda, responsáveis pelo destino de sua Nação e têm vivo no coração o juramento solene de, por Ela, se for preciso, dar a própria vida. Por tais motivos, ainda temos a capacidade de nos inflamarmos, como o fizemos, recentemente, alertando a Nação para a possibilidade de fratura da sociedade brasileira, por elementos eivados de revanchismo, pleno de viés ideológico, na contramão da conciliação, da paz social e da História.
Não creio que seja a hora de silenciarmos, mesmo discordando, RESPEITOSAMENTE, o que é salutar. Além do mais, podemos falar aquilo que os militares da Ativa, a exceção dos chefes, não o podem dizer. Concordo, entretanto, que não cabem as ofensas gratuitas e que ferem o respeito que todos devem ao Comandante.
Afirmar que as dificuldades são herança do passado explica, porém, não justifica a existência delas no presente. Cabe ao Comandante atual resolvê-las. Pode-se considerar perverso, mas é a realidade, principalmente no Exército, com a qual já lidamos todos nós que fomos comandantes nos diversos escalões.
Como tantos outros, não imagino. Guio-me pelo que muito leio e pesquiso (coloque aí os depoimentos, no Congresso, de comandantes militares), pelo que converso frequentemente com companheiros da Reserva e da Ativa, dos diversos postos e graduações, e pelo que tenho oportunidade de ver de vivenciar. Assim, lamento profundamente estarmos agraciando com medalhas, desvalorizando-as e aos que as têm, gente que jamais fez qualquer coisa pelo Exército a não ser achincalhar o mesmo e os militares. Como concordar que tenhamos, anos a fio, orçamentos ridículos, baixos salários, dificuldades no atendimento pelo Fusex, hospitais com diminutos efetivos médicos e carências materiais? Como aceitar um Exército com carência de munição para formar oficiais e graduados e o combatente no corpo de tropa? Como aceitar a crescente evasão de oficiais e graduados e a diminuição da atratividade da carreira para os jovens? Como aceitar a falta de equipamentos modernos de todos os tipos, incluso sistemas de armas, viaturas, material de comunicações, radares, equipamento individual e outros para que tenhamos uma força de dissuasão? Como compreender os baixíssimos investimentos em ciência e tecnologia, postergando importantes projetos? Os nossos soldados não recebem uniforme de passeio e enxoval adequado as suas necessidades. E somos a sexta economia do mundo! E, assim, la nave va ... 
O que a política de mudez, de agrado e de imposições goela abaixo, como o não comemorar o 31 de Março, rendeu de positivo, todos esses anos, senão promessas não cumpridas, adiadas indefinidamente, e comentário, segundo a Imprensa, extremamente aviltante, no que tange a salários, do ex-Presidente, durante visita à Colombia? Afirmam alguns, como se fosse extremamente positivo, que os orçamentos aumentaram, embora o próprio Ministro da Defesa diga que não são compatíveis, minimamente, com as necessidades atuais.
Creio que estamos pagando um preço muito alto para tão pouco em troca, ainda mais que se trata de responsabilidade do Comandante em Chefe das FFAA provê-las do necessário para o cumprimento de suas missões constitucionais.
Para findar, quero enfatizar que o acima não é uma crítica às suas considerações tão bem colocadas como sempre ocorre. É apenas uma outra visão. Concordo com o meu Amigo que o momento, e sempre o será, é de cerrar fileiras em torno dos chefes, porém, sem abrir mão do direito de opinar e de até mesmo discordar quando necessário.
Um grande abraço do admirador de sempre,
Marco Felicio.
06/05/2012

Fonte: averdadesufocada

CABU NÃO ESTA SÓ. ESSA GUERRA NÃO É SÓ DELE.
JN -Editor

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