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terça-feira, 3 de novembro de 2009

OS PATRÕES VIVOS DO STALINÁCIO

segunda-feira, 2 de Novembro de 2009.

Por Jorge Serrão

Gran-maestro, por instinto, na marketagem política, Hugo Chávez sugeriu aos brasileiros, sexta-feira passada, que defendam um terceiro mandato para Lula – a quem comparou a Jesus Cristo, por sempre trazer boas notícias para a Venezuela. Deus já deve estar de saco cheio (como naquele famoso pagode) de ouvir tanta bobagem...

Embora defendesse Lula forever, Chávez declarou estar certo de que Dilma Rousseff será eleita para sucedê-lo em 2010: “Todos sabem o peso que Dilma tem. É a próxima presidente do Brasil, podem anotar. É o que me diz esse coração. Ela é uma grande mulher com a cabeça bem coordenada”.

Independentemente de tanta demagogia, Chávez fez uma pergunta que merece resposta: “Por que um presidente que está bem e tem 80% de popularidade tem que sair?”. Elementar, meu caro Chapolim Colorado: porque existe uma regra do jogo, bem clara, que precisa ser obedecida aqui no Brasil.

A turma do Lula bem que fez de tudo. Não faltaram factóides de continuísmo. Mas não houve condições políticas para se aplicar o golpe institucional do terceiro mandato seguido. Os petistas e sua base aliada recuaram e agora terão de apostar tudo na Dilma (ou em outra alternativa de última hora, se ela não decolar conforme esperado).

Stalinácio já definiu, claramente, sua estratégia futura. Pretende voltar ao poder, a partir de 2015, nos braços do povo. Tanto que já avisa, antecipadamente, que um eventual futuro governo Dilma “não será o terceiro mandato”.

Lula já trabalha, discretamente, para descolar sua sagrada imagem de qualquer fracasso da próxima administração. Lula faz isto porque sabe que seu sucessor, seja quem for, terá dificuldades econômicas e políticas. Lula apenas tira o dele da reta antecipadamente. Quem negocia com Judas faz isto numa boa.

Os cenários para 2011 são desconfortáveis. A economia brasileira só mantém seu crescimento de anã por causa do crédito – que hoje já chega a 45,7% do PIB. Há quem aposte que isto uma hora quebra. Ainda mais porque a mágica do dinheiro fácil para o crédito ocorre junto com aportes do Tesouro Nacional que só fazem crescer a dívida pública – hoje em R$ 1,4 trilhão.

Tudo indica que, com a queda da arrecadação, faltarão recursos reais para cobrir tal rombo. Mas, como o governo é mágico, pode ser que algum problema – como volta de inflação - só estoure depois de 2011, quando Lula não estiver mais no poder. Situação cômoda demais para ele. Assim é fácil ser um franco atirador, quando deixar o cargo máximo da República.

Lula é malandro. A definição do antropólogo Roberto DaMatta cai como uma luva de boxe para Stalinácio: “Os malandros apenas confirmam o que os reis e os nobres realizam: eles, como os grandes futebolistas, driblam a lei. Os malandros não rompem com elas. Eles passam por suas brechas. Eles relativizam os limites, tornando-os elásticos, mostrando como é complexa a operação de uma sociedade que tem dois ideais: a do pobre (que nada pode) e a do Príncipe (que pode tudo)”.

Sorte que o filósofo popular Bezerra da Silva nos lembra que “Malandro é malandro; mané é mane”. Por falar nestas duas categorias, o “Príncipe dos Sociólogos” baixou o pau no Lula em seu artigo dominical em O Globo e no Estadão. No texto “Para onde vamos?”, FHC reclama que “DNA do ‘autoritarismo popular’ vai contaminado o espírito da democracia”. FHC cobra “um basta no continuísmo antes que seja tarde”. O provocador FHC também pergunta por que Lula “antecipa a campanha eleitoral e, sem qualquer pudor, passeia pelo Brasil às custas do Tesouro exibindo uma candidata claudicante”.

Lula deve ter detestado o texto (que não leu, mas leram para ele, com certeza). Mas não deve passar recibo para seu antecessor a quem deu continuidade com diabólicos “aprimoramentos”. Judas deve saber bem deste assunto. E Lula também, já que admitiu que foi obrigado a negociar com Judas para governar.

Lula se julga acima do bem e do mal. O autoritarismo popular a que se referiu FHC o transforma no Stalinácio (personagem batizado pelo escroque Agamenon Mendes Pedreira, em O Globo). Mas qual é a verdadeira essência do Lula – defensor da tese de que "hoje o povo tem sua própria opinião" e que não existem mais “formadores de opinião”? A pergunta pode ser respondida com o que acontecerá ao longo desta semana.

Lula é um mero serviçal do poder real mundial que nos faz engolir o processo globalitário. Tanto que, por seu “trabalho”, Stalinácio receberá o prestigiado Chathan House Prize, no próximo dia 5 de novembro, em Londres. Como um eterno sindicalista de resultados, depois de premiado no centro do poder global, Lula vai se encontrar pessoalmente com alguns de seus “patrões” globais: a rainha Elizabeth II, no Palácio de Buckingham, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, no famoso endereço de Downing Street, 10.

Enfim, vale o ditado popular: “Manda quem pode; obedece quem faz acordo com Judas”. Como Judas já é um sujeito historicamente muito malhado, só nos resta malhar um pouquinho o Stalinácio e lhe desejar um feliz Dia dos Muito Vivos, além de um proveitoso e lucrativo encontro com seus patrões transnacionais.

Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.