Maria Lucia Victor Barbosa
10/06/2009
A tragédia do voo 447 da Air France continua a repercutir de forma incessante. Dia e noite as TVs se revezam no afã de apresentar o que até agora é inexplicável. Não existem explicações para a causa da queda do avião, uma espécie de Titanic voador mais que perfeito. Não há ainda identificação dos corpos achados. Não foi localizada a caixa preta e é difícil que o seja. Apenas permanece o horror das vidas ceifadas na celeridade de poucos minutos. Soam advertências de como carreiras promissoras, promessas de felicidade, sonhos são sepultados inexoravelmente no túmulo imenso e frio do oceano. A tragédia coletiva relembra de como somos frágeis e impotentes diante da morte.
O terrível acidente, entretanto, é mais do que luto e dor. Serve ao propósito de acobertar fatos inconvenientes para o governo, distrai atenções, alimenta conversas.
Não se fala mais da gripe suína. Desapareceram como por encanto dos noticiários as enchentes do nordeste com suas vítimas anônimas. Não se toca na tragédia pessoal dos que morrem cruelmente sem atendimento em corredores de hospitais inadequados. Omite-se o aumento da violência urbana, a ser incrementada especialmente no Rio Grande do Sul porque juízes decretaram que bandido nenhum vai preso porque faltam prisões. Ninguém sabe como anda o caso Cesare Battisti, o terrorista e assassino italiano que o Brasil teima em proteger.
Assuntos, escândalos, espantos aparecem, somem e se perdem rapidamente na memória coletiva, que de resto retém muito pouco do que é noticiado. Desse modo, é de duvidar que ainda se pergunte: Existe mesmo um membro da alta hierarquia do Al-Qaeda vivendo em São Paulo? É verdade que a China tomou nosso comércio com a Argentina, apesar dos negócios da China que Lula da Silva foi fazer com pompas e honras naquelas terras distantes onde autoridades estão se lixando para direitos humanos? Aquele deputado castelão sofreu alguma punição ou foi mais um a se safar entre mensaleiros, sanguessugas, falcatruas num Congresso onde Renan Calheiros é exemplo a ser seguido, e o senador Sarney não sabe se recebe auxílio moradia sem disto necessitar? E sobre a CPI da Petrobrás, que inspira terror pânico aos companheiros presidenciais, vai ser de novo adiada por manobras governamentais? Vai acabar em nada como todas as outras? Para trás, sem abrir, vão ficando as caixas pretas da política nacional.
Além do terrível acidente do Airbus da Air France prevalece no momento outro assunto que entretém a massa: a Copa de 2014. Já se nota que serão cinco longos anos de massacrante e tediosa propaganda. Pão e circo funcionavam na Roma Antiga. No Brasil Futebol e cerveja bastam para a felicidade geral.
Diga-se de passagem, que parecemos um país de bêbados, pois em quase todos os acidentes de trânsito se diz que o chofer estava bêbado, como no caso do deputado estadual paranaense, Fernando Ribas Carli Filho que, bêbado, matou dois rapazes e, certamente, ficará impune.
Contrastando com a overdose sobre o acidente aéreo a indiferença do presidente da República. Bem diferente na França onde o presidente Sarkozy, pessoalmente, prestou solidariedade às famílias das vítimas. Lula da Silva estava viajando para variar quando ocorreu a tragédia, mas mesmo em sua volta preferiu enviar seu dedicado chanceler Celso Amorim para prestar condolências em missa celebrada em memória dos que se foram. Tampouco Marco Aurélio Garcia, o mentor de nossa desastrada política externa, se pronunciou. Ainda bem, pois poderia fazer gestos obscenos.
Destacou-se no sinistro episódio o ministro da Defesa, Nelson Jobim, nosso “general da banda” que, fissurado por fardas as enverga sem a menor cerimônia. Idiólatra por natureza, falastrão por excelência, o ministro deixou correr a imaginação e pontificou para o mundo sacudindo uma vareta professoral.
Diferente de suas inspeções em navios, quando deu aulas sobre o que não entende, a fala teve repercussão em outros países, mas não como desejava o ministro, pois foi tachado de “bavard”. Mais um vexame para nosso bestialógico internacional já bem recheado com os discursos presidenciais.
Na TV, entre helicópteros trazendo restos das vítimas, eis que surge o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Em mais um malabarismo verbal ele saudou a queda do PIB no primeiro trimestre, dizendo que foi menor do que esperava. Aproveitou e renovou a promessa de que no próximo trimestre tudo será melhor. O ministro que afirmou que o Brasil cresceria 5% em 2009, não se peja em cair constantemente em contradição. Afinal, quem vai se lembrar do que ele disse? Vale a palavra do presidente: é marolinha e ponto final.
Com Dilma ou Lula em terceiro mandato o PT pretende continuar no poder.
Seus marqueteiros sabem que fatos são apenas versões, que mitos podem ser construídos com pinceladas de grossas mentiras.
O PT se superou na arte da manipulação e compreendeu que opinião pública não existe.
Portanto, para que respeito às vítimas do voo 447 e aos seus familiares? Basta mostrar o vaivém sinistro dos helicópteros e os futuros e virtuais estádios da Copa 2014.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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