Lula, Dilma e o Petrolão
Artigo de Marco Villa - 09/12/14
Todas as evidências vinculam o maior esquema de corrupção da história ao PT, inclusive à campanha de 2010
Não há na história da República brasileira um escândalo da magnitude
do petrolão. Mais ainda: não há na história mundial nenhuma empresa
pública que tenha sofrido uma sangria de tal ordem. Ficamos cada dia
mais estarrecidos com a amplitude do projeto criminoso de poder que
controla o país desde 2003. Bilhões de reais foram desviados da
Petrobras. Agora as investigações devem também alcançar o setor
elétrico, as obras do PAC e aquelas vinculadas à Copa do Mundo. Ou seja,
se já estamos enojados — aproveitando a expressão utilizada por Paulo
Roberto Costa na acareação na CPMI da Petrobras, na semana passada — com
o que foi revelado, o que nos aguarda? E quando soubermos da lista de
parlamentares e ministros envolvidos?
O país está como
aquele indivíduo em Pompeia, no ano 79 d.C., que caminhava
tranquilamente nem imaginando que o Vesúvio entraria em erupção. O
Congresso mantém sua rotina trocando votos por dinheiro, o que já não
causa nenhuma estranheza. O governo não conseguiu nomear seu Ministério e
o país está sem orçamento aprovado para 2015. E o Judiciário mantém o
ramerrão de sempre: muito formalismo e pouca justiça.
A boa nova é que sociedade civil
está se mobilizando. Diferentemente de 2006 e 2010, desta vez o
espírito cívico se manteve. Manifestações nas ruas, reuniões, debates
nas redes sociais têm marcado a conjuntura pós-eleitoral. É uma
demonstração de interesse pelos destinos do país e que desagrada — e não
poderia ser o contrário — aos marginais do poder. Mas o que chama a
atenção é o silêncio de entidades que, em certa época, estiveram à
frente na defesa do Estado Democrático de Direito. Uma delas é a Ordem
dos Advogados do Brasil. Qual a razão da omissão? E os artistas? O
silêncio tem alguma relação com os generosos patrocínios da Petrobras?
O petrolão atingiu em cheio o governo Dilma. Pesquisa Datafolha
divulgada no último domingo mostra que 68% dos entrevistados consideram
que a presidente tem responsabilidade no caso. Todas as evidências
apresentadas até agora vinculam o maior esquema de corrupção da história
ao PT, inclusivr
à campanha presidencial de 2010. Augusto Ribeiro de Mendonça Neto,
executivo da empreiteira Toyo Setal, afirmou que pagou propina em
dinheiro vivo, em remessas a contas no exterior e em doações oficiais ao
PT, tudo, segundo ele, combinado com João Vaccari, tesoureiro do
partido. Portanto, foram cometidos vários crimes eleitorais. Por que a
Justiça Eleitoral está silenciosa? Mendonça Neto disse também que
entregava dinheiro vivo a três emissários do PT que se apresentavam com
alcunhas típicas de traficantes do Complexo do Alemão: Tigrão, Melancia e
Eucalipto.
Alberto Youssef foi claro quando disse: “Não sou o mentor nem o chefe
desse esquema. Sou apenas uma engrenagem desse assunto que ocorria na
Petrobras. Tinha gente muito mais elevada acima disso, inclusive acima de Paulo Roberto Costa.” A afirmação permite, no mínimo, três perguntas:
1 –cmo é possível um esquema dessas proporções sem que autoridades superiores tenham conhecimento ou até comandem essas operações?;
2 – Por que foi organizado este esquema e com quais objetivos?
3 – Como foi possível movimentar fortunas sem que o Conselho de controle de Atividades Financeiras (Coaf) tomasse conhecimento?
Neste processo, duas pessoas têm enorme responsabilidade como
representantes do Estado brasileiro. O primeiro é o ministro Teori
Zavascki. Caberá a ele a responsabilidade de, inicialmente, ser no STF o
responsável pelo processo. Na Ação Penal 470, infelizmente, o ministro
acabou acatando a tese de um novo julgamento que levou à derrubada da
condenação por formação de quadrilha da liderança petista. E, como ficou
patente, o julgamento acabou desmoralizado e objeto de chacota. Já no
caso do petrolão, é incompreensível a libertação de Renato Duque. O
outro é o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Quando assumiu a
PGR — e participou da segunda parte do julgamento do mensalão — deixou
nos brasileiros uma enorme saudade do seu antecessor, Roberto Gurgel.
Teve uma atuação, no mínimo, pífia. Agora, segundo noticiado, teria se
encontrado sigilosamente com representantes das empreiteiras envolvidas
no escândalo para, sempre de acordo com a imprensa, evitar que o
processo chegue aonde deve chegar, ao Palácio do Planalto.
É impossível acompanhar o escândalo sem questionar o papel de Luiz
Inácio Lula da Silva. Afinal, a organização e a prática do esquema de
corrupção tiveram inicio
durante o seu longo período presidencial. Porém, até hoje, apesar da
gravidade dos fatos, Lula se mantém em silêncio. Tudo indica que aguarda
a revelação das provas em poder da Justiça para só daí — a contragosto —
emitir uma opinião. Lula é um safo, como vimos durante o processo do
mensalão. Tinha pleno conhecimento do petrolão — e disso não há qualquer
dúvida. Nomeou a diretoria da Petrobras com o intuito inequívoco de
organizar o maior caixa 2 da história republicana. Se no mensalão ele se
salvou, desta vez vai ser muito difícil. Pela primeira vez neste país
poderemos ter um ex-presidente não só indiciado, mas condenado pela
Suprema Corte. Resta saber se o STF vai agir dentro da lei ou
permanecerá um mero puxadinho do Palácio do Planalto, como em outras
oportunidades.
Do outro lado do Atlântico, em portugal,
o ex-premiê José Sócrates continua detido suspeito de fraude fiscal e
corrupção. Um dia Chico Buarque cantou — ironicamente — que o Brasil
iria virar um imenso Portugal. Espero que ele tenha razão.
Marco AntonioVila é historiador