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domingo, 12 de outubro de 2014

POBRE JORNALISMO BRASILEIRO. PRECISOU UM JORNALISTA ESPANHOL PARA DIZER COM PRECISÃO O QUE LEVOU AÉCIO À VITÓRIA



Juan Arias. Vive no litoral fluminense, numa pequena cidade na região dos Lagos. Tem quase 80 anos. Foi um dos melhores vaticanistas do El País, onde começou a trabalhar nos tempos em que se terminava a luta contra o franquismo. O Arias é profundamente católico. Participou algumas vezes do Painel da GNews, se alguém quiser assisti-lo falando. É um jornalista de pena sensível, com grande ênfase em
combate à desigualdade e à pobreza





Em artigo publicado no El País, mais importante jornal espanhol, intitulado " O segredo da virada de Aécio Neves", Juan Arias escreve o que os jornalistas brasileiros sabem, mas têm medo de escrever, patrulhados pela esquerda nojenta que domina as redações. Leia abaixo.

Aécio  Neves  não  só  foi  a  surpresa  final  deste  primeiro  turno  das  eleições presidenciais brasileiras como também sua vitória, maior do que a prevista em todas  as  pesquisas,  deve-se  a  ele  pessoalmente.  Tratou-se  quase  de  um fenômeno  em  termos  de  psicologia:  sua  capacidade  de  reação  frente  a  uma derrota anunciada e de alguma forma já aceita até por seu partido.

Neves  cresceu  em  vez  de  se  apequenar  quando  o  terremoto  Marina  Silva  o esmagou  de tal forma  que  ele foi  inclusive  aconselhado  a  desistir. Arregaçou as  mangas  e  anunciou  que  seria  o  vencedor  capaz  de  disputar  um  segundo turno  contra  a  Presidenta  candidata  Dilma  Rousseff,  que  era  tudo  o  que  o partido dela, o PT, não desejava.

Sua posição de terceiro na disputa, um candidato em quem ninguém apostava diante da força da ecologista Silva, o levou a reagir inclusive nos debates, que acabou vencendo.

Não sei se conscientemente ou não, o que garantiu a vitória a Neves foi o fato de  ter  aparecido  em  todas  as  suas  manifestações  exteriores,  entrevistas  e debates, como o mais brasileiro de todos os candidatos. Revelou isso de modo cristalino  em  sua  despedida  de  um  minuto  e  40  segundos  no  último  e  mais importante  dos  debates  televisivos,  o  da  TV  Globo,  com  50  milhões  de telespectadores.

Apesar de aparecer naquele momento como derrotado em todas as pesquisas, Aécio,  ao  contrário  das  suas  duas  adversárias  principais,  Rousseff  e  Silva, dirigiu-se à audiência com coração brasileiro, exalando confiança, ou seja, sem dureza,  sem  agressividade,  agradecendo  o  carinho  recebido  em  suas
peregrinações  pelo  país,  revelando  sua  vontade  de  prosseguir  na  disputa,  e com a certeza da vitória.

Apresentou-se  como  candidato  de  todos  os  brasileiros,  aos  quais  ofereceu certezas e capacidade de Governo, assim como a segurança de que possuía a receita para levantar o país da sua atual frustração. Emocionou-se e apelou à esperança  hasteando  a  bandeira  da  mudança  que  a  rua  pedia.  Foi  naquela
hora o único que acabou sendo aplaudido pela plateia presente.

Ex-senador e ex-governador do segundo Estado mais populoso do país, Minas Gerais,  revelou  em  suas  discussões  com  a  candidata  que  liderava  as pesquisas,  Rousseff,  sua  capacidade  dialética  e  uma  forma  firme,  mas  ao
mesmo  tempo  brasileira,  ou  seja,  não  raivosa,  de  enfrentar  suas  adversárias políticas.

Aécio sempre foi criticado, quando na oposição, por não saber bater de frente com  o  governo.  Atribuíam  isso  a  esse  espírito  mineiro,  mais  propenso  ao diálogo  e  aos  acordos  do  que  à  guerra.  Com  esse  espírito  desarmado, enfrentou  uma  campanha  levada  a  cabo  sob  o  signo  dos  golpes  baixos,  sem se deter nem mesmo diante da mentira e das desqualificações pessoais.

Neves  nunca  caiu  nessa  armadilha  e  prosseguiu  firme  em  seu  esquema, convencido  de  que,  apesar  de  ter  sido  quase  selada  sua  derrota,  ele continuava  acreditando  com fé firme  em  dar  a  volta  por  cima.Os  votos  reais, contrariamente  ao  que  as  pesquisas  anunciavam  até  os  levantamentos  de
boca de urna, o colocam a seis pontos da Dilma, muito pouco quando se pensa em como ele estava ao iniciar a aventura.

Dilma,  que  conseguiu  menos  votos  do  que  na  primeira  vez  em  que  foi escolhida,  em  2010,  agora  enfrentará  Neves,  que  aparece  como  surpresa ganhadora  e  que  poderia  contar  a  seu  favor  com  até  60%  dos  votos  da perdedora Marina.

Ele,  que  já  foi  surfista,  lançou  o  slogan  de  que  a  “onda  da  razão”  havia  se erguido no mar da campanha, contra a onda do sentimento. Seu êxito consistiu em  saber,  com  teimosia,  querer  ganhar.  Também  contribuiu  para  isso  sua
campanha  propositiva  e  de  esperança,  as  duas  fibras  do  atual  coração brasileiro: o afeto e ausência do medo e o sentimento dos brasileiros que, em junho de 2013, haviam começado a usar a razão para exigir um Brasil melhor,
que é o que prometeu criar o candidato mineiro, prudente e ao mesmo tempo tenaz
.