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terça-feira, 22 de abril de 2014

‘tempus horribilis’

Data: 21 de abril de 2014 11:14
 TARCIZIO R. BARBOSA


DIPLOMA, ESSA CONQUISTA AVILTADA

           
            Agruras e sacrifícios, noites insones, vida social relegada a uma mera quimera era tudo que esperava o aspirante ao Ensino Superior, quando a Universidade ainda valia alguma coisa e os cursos ministrados realmente formavam profissionais e até alguns expoentes reconhecidos mundialmente. A chave de entrada era o mérito, sem cotas, subterfúgios ou  nefandos p, ps. (Pagou, Passou). Sim, reconheço que o ensino era elitista, mas reconheço também que egressos de Escolas Públicas, como o Pedro II do Rio, por exemplo, ombreavam-se em conhecimento com os ‘filhinhos-de-papai’ dos caríssimos Colégios Particulares...e não faziam feio nos vestibulares das Federais que, junto com as PUCs , o ITA e o IME  faziam do nosso ensino superior referência internacional.
           
            Havemos de nos lembrar, para citar apenas a minha seara, que nas décadas de setenta e oitenta do século passado, a Engenharia e a Arquitetura nacionais eram reverenciadas e copiadas mundo afora. Disso nos dão notícia a Ponte Rio-Niterói, a Transamazônica, as grandes Hidrelétricas, a alavancagem nas telecomunicações (i.e. DDD e DDI) etc.

            Naquela época as Faculdades não formavam gênios -  pois eles delas prescindem – mas os egressos de um curso superior chegavam ao mercado de trabalho dispondo do conhecimento necessário para iniciarem a jornada profissional.

            O Diploma era garantia disso e a fé do grau conquistado  motivo de orgulho pessoal e familiar. Não havia necessidade de exames posteriores para verificar se o formando estava apto ou não...ele estava apto e pronto!

            Professores universitários sabiam quem eram os expoentes da cultura e do saber e, entre esses, não havia qualquer concessão à chalaça ou espaço para se erigirem baluartes à ignorância e ao não saber. É triste ver questão de prova nomear a senhora ‘Valesca Popozuda’ (sic) como ‘grande pensadora contemporânea’, provavelmente pela capacidade da mesma expressar-se através da sua avantajada anatomia, ao invés do cérebro. E o ‘professor’, autor dessa piada de mau gosto ainda tem o desplante de justificar-se do alto da cátedra, pontificando que “qualquer ser humano  que consegue formar um conceito é um pensador” (sic) citando de maneira torta conceitos da filosofia moderna francesa. Grande coisa, não é por acaso que a França está se debatendo na franca decadência, logo ela que já foi a Cidade Luz, não só pela iluminação feérica, mas sobretudo pelas magníficas luzes das contribuições culturais de seus nativos. Entenda-se, esse professor deve ter buscado o vocábulo ‘pensadora’ na filosofia francesa moderna como disse e, talvez o vocábulo ‘grande’ em outra porção do ‘ser humano’ Valesquiano. Sob essa ótica qualquer chimpanzé (Pan Troglodytes) de laboratório é um pequeno (pelo porte) pensador (pela capacidade), pois consegue formar conceitos. Eis o exemplo acabado de um idiota diplomado que absolutamente não está sozinho nesse universo perverso.

            Tristeza sem fim é ver uma professora-pesquisadora da USP- sim, essa mesma Universidade que acabou de ser rebaixada no ranking das melhores escolas do mundo- carregar o seu laboratório em um carrinho de feira porque o Campus onde pesquisava está contaminado. Isso mesmo, o Campus foi construído sobre solo contaminado e está interditado. E isso acontece no estado de São Paulo, o mais rico – ou menos pobre – do Brasil.

            Espanto, quando o MEC manda 110 bolsistas voltarem do Canadá e da Austrália onde já estavam desde setembro de 2013 porque só agora o Ministério brasileiro se deu conta que eles não sabem...inglês.
            Gargalhemos com outros arroubos dos diplomados de plantão ao sancionarem o ‘nóis vai’ com sendo    manifestação linguística escorreita segundo a norma popular – em oposição à dita norma erudita ou culta. Bons tempos em que havia apenas uma regra...a correta.

            Sem dúvida alguém anda fumando orégano estragado!

            Ao fim e ao cabo essas manifestações de pura idiotia em estado bruto, assassinando o idioleto não são estranhas nesses ‘tempus horribilis’ em que vivemos, onde qualquer um...qualquer um mesmo!...tem acesso a diplomas de nível superior, de Mestrados, Doutorados e Pós-Doutorados sem sequer saber interpretar um texto ou aplicar conhecimentos adquiridos em novas e inéditas situações. Sem isso não acontecem novas descobertas e, em conseqüência,  não há progresso.

            O abastardamento do ensino nas Escolas de todos os graus é fato e explica porque somos a rabeira do PISA, porque não temos proficiência em raciocínio lógico e porque perdemos o passo do desenvolvimento sustentado. Afinal, não se promove o desenvolvimento econômico e cultural de uma nação sem um forte empuxe na qualidade da Educação de seu povo.

            Vou queimar os meus diplomas!


            São Paulo, 09 de abril de 2014

            TARCIZIO R. BARBOSA