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quinta-feira, 24 de abril de 2014

DEDO DURO E ALCACOETE TEM NOME: "agente BOI" jn

         
                                         
Renato Lemos



"Boi" era o nome usado nos tempos do regime militar para esconder a identidade de um informante.

No DOI-CODI, ele era conhecido por esse nome - "agente Boi" - e em público, com sua verdadeira identidade e falação, procurava ganhar prestígio entre os trabalhadores como líder sindical.

O homem, barbudo e chegado a uma 51, jogava nos dois times. Dava aos militares informações sobre o que acontecia no meio sindical. Muitos companheiros saíram de cena, vítimas desse seu trabalho. Quando reunido com os trabalhadores, tratava de assuntos trabalhistas e sindicais, ao mesmo tempo em que criticava e condenava o regime militar.

Era um pelego a serviço dos militares e usava de todos os recursos no meio sindical para enganar os trabalhadores. Tirou proveito da confiança que conquistou entre os trabalhadores à custa de mentiras e esperteza, enquanto recebia benefícios e vantagens dos militares como pagamento pela sua função de dedo-duro e agente infiltrado entre os trabalhadores.

Foi assim que ele cresceu no meio sindical.

Tudo começou quando os militares se empenharam em eliminar o que ainda restava do populismo getulista depois de 1964. Para conseguir isto, houve um trabalho de doutrinação executado por intelectuais da USP, - alguns deles considerados "esquerdistas" - que, com seus escritos, procuraram desacreditar o trabalhismo getulista e desmoralizar antigos líderes, como Leonel Brizola, Jango Goulart, Almino Afonso e outros.

Para uma ação mais direta no meio sindical, com a finalidade de anular a influência da CGT - Comando Geral dos Trabalhadores, era necessário alguém aceito e ouvido pelos trabalhadores. Quem ajudou a encontrar o homem capaz dessa tarefa foi o empresário Paulo Villares, das Indústrias Villares. Foi ele a ponte que estabeleceu a ligação entre os militares e aquele que atuaria como líder sindical e informante conhecido pela alcunha de "Boi". Ele já havia prestado "favores" a Paulo Villares, que lhe era grato por isso. Promovera a pedido dele uma greve que as Indústrias Villares pretendiam usar, depois, - assim aconteceu, - como pretexto para rescindir um contrato com a COFAP e desta forma evitar prejuízos para a empresa.

Ele foi apresentado ao general Golbery do Couto e Silva num churrasco na casa dele na Granja do Riacho Fundo.

Como era uma figura sem estudo e cultura, os militares decidiram que ele deveria ter uma formação à altura, para poder atuar de forma eficiente como líder sindical. Ele começou como aluno do IADESIL - Instituto Americano de Desenvolvimento do Sindicalismo Livre, escola de doutrinação que funcionava em São Paulo, desde 1963, por iniciativa e às custas dos sindicatos norte-americanos da AFL-CIO.

Em seguida, ele teve viagem e estada pagas pelo regime militar para fazer curso de sindicalismo nos Estados Unidos, em 1972. Lá recebeu aulas sobre a matéria, acompanhado de tradutor, na Johns Hopkins University, em Baltimore, e nos sindicatos norte-americanos, aulas de que saiu com "diploma" de aluno bem aproveitado. E tão bem aproveitado que, pela forma como passou a agir posteriormente, o que se conclui é que aprendeu todo tipo de lições sobre sindicalismo, até mesmo aquelas que mancham a história de algumas dessas organizações norte-americanas, controladas por mafiosos e exploradas por espertalhões e bandidos. Nomes como Jimmy Hoffa, Bugsy Siegel e Lucky Luciano, entre outros, fazem parte dessa história, muito bem retratada em filmes como Sindicato de Ladrões.

De volta ao Brasil, pôs em prática tudo que aprendera. O lícito e o ilícito. Depois de perder um dedinho - sabe-se lá como!... - quando ainda estava na Villares, parou de trabalhar, e desde então nunca mais se interessou pelo assunto. Desta forma, com a vida garantida, ficou com tempo livre para atuar entre os trabalhadores e passar horas nos botecos, onde se distraía com doses generosas de 51.

Nas reuniões, fazia circular várias ideias e propostas entre os trabalhadores e acompanhava com atenção a reação deles, passando a defender a que parecia ter apoio da maioria. Foi assim, à custa deste e de outros recursos, que não excluem a fraude e a mentira, que ele conquistou a simpatia e confiança dos trabalhadores.

Como torneiro, quando ainda trabalhava, filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos, em que ocupou cargos importantes até se tornar seu presidente em 1975. Nesta época estava em vigor o AI-5. Por isso muitos asseguram que sua ligação com os militares foi decisiva para ele chegar à presidência do sindicato. Eles têm razão. Todos os sindicatos estavam sob intervenção e ninguém assumiria a presidência, principalmente de um sindicato tão importante como o dos Metalúrgicos, sem aprovação dos militares.

Nesta época, ele dividia o tempo como líder sindical e informante do DOI-CODI. Sem dispensar, naturalmente, os botecos... Sua atividade como líder e dirigente sindical era conhecida de todos os trabalhadores, mas a de informante, apenas da cúpula do DOI-CODI, ou, mais exatamente, do então delegado do DOPS Romeu Tuma. Muitos tentaram obter do antigo delegado dados esclarecedores sobre o informante, mas Tuma, quando senador da República, sempre se mostrou evasivo a respeito do assunto e acabou levando para o túmulo as informações que ajudariam a delinear um perfil bem acabado do "agente Boi". Foi uma pena os trabalhadores não terem sabido desses fatos naquela época. O "Boi" teria morrido de inanição e desaparecido, como resto descartável, jogado no lixo da História!...

Em 1980 ele foi preso. Foi um acontecimento que causou surpresa, pois nessa época já gozava de prestígio como líder sindical. Muitos estranharam isto e perguntavam por que ele havia sido poupado durante as agitações e manifestações dos anos anteriores, quando ainda estava em vigor o AI-5. Pelo que aconteceu depois, a prisão parece ter sido uma manobra para chamar a atenção e colocá-lo em evidência. Na prisão, o "Boi" foi tratado a pão-de-ló. Enganou o público com uma greve de fome sabidamente furada e gozou de regalias de que não desfrutavam os demais presos, tudo graças ao delegado Romeu Tuma.

O resultado do período em que esteve preso é conhecido. Ganhou a auréola de "mártir da ditadura", que lhe foi conferida por amigos, mas, para Leonel Brizola, conhecedor do que escondia o nome "Boi", ele não passava de "filho da ditadura". Com os civis de volta ao poder, fez-se passar por perseguido político, vítima do antigo regime, e isto lhe rendeu, mais tarde, uma gorda indenização coroada com uma aposentadoria vitalícia isenta de imposto de renda. Atualmente recebe mais de R$ 6.000,00 (seis mil reais) mensalmente. Aposentadoria por vagabundagem, se comparada com a de qualquer trabalhador depois de 40 anos de serviço.

Aconselhado e apoiado pelo general Golbery, dentro daquela mesma linha antigetulista, liderou a criação de um partido político a que deu o nome dos trabalhadores. Assim, com o fim do regime militar, deixou de ser o "agente Boi", um título e função que ficaram para trás como parte do passado, perdidos nas sombras e ignorados pelos trabalhadores. Desde então o que se viu foi um homem membro de um sindicato transformado em líder político, com os piores vícios que podem manchar um político. Um político da pior espécie, sem princípios morais e éticos, mentiroso, ardiloso, trapaceiro, desonesto, corrupto, oportunista, que usa as pessoas para chegar ao poder, para "subir sem se elevar", que trai os amigos para salvar a própria pele. Em resumo, um político que se conduz pelo princípio segundo o qual o fim justifica os meios.

A continuação dessa história é o que o Brasil, infelizmente, está vivendo desde 2003!!!