A
crise internacional envolvendo a Ucrânia parece já ter chegado a seu ápice. Os
oponentes já mostraram suas cartas, seus dentes e suas garras. A Crimeia já se
encontra sob ocupação russa. Putin não pretende arredar de lá. E, no Ocidente,
apesar das palavras firmes de alguns líderes, todos sabem que não vale a pena
afrontar o Urso por causa da Ucrânia - simples assim, é como funciona o cálculo
estratégico em política internacional. Não obstante, pressões continuam para uma
medida mais incisiva por parte dos ocidentais - inciativa essa que dificilmente
virá. O que fazer então?
A
História (ah, a História) é sempre pródiga em exemplos e referências para os que
tentam navegar nos mares tortuosos das Relações Internacionais. E com a situação
na Ucrânia não deve ser diferente. Tudo parece caminhar nesse caso para uma
solução no melhor estilo da Conferência de Munique, de 1938.
Putin
já disse o que quer. A Crimeia é russa desde sempre (era russa até a 1954,
quando Kruschev, nascido bem pertinho da fronteira russa com a Ucrânia,
resolveu, em um típico ato de solidariedade entre os povos da União Soviética,
transferir o território para a República Socialista Soviética da Ucrânia - o
que, em termos de de dominação soviética, não significava absolutamente
nada...), sua população é russa, e há uma outra série de razões para se dizer
que a região deve ficar sob a égide de Moscou (exatamente como os Sudetos com
relação à Alemanha, em 1938).
Os
ocidentais, fora o discurso altivo, estão titubeantes, não querem confusão com a
Rússia (ainda mais por uma região que sempre esteve sobre hegemonia russa), e
buscam desesperadamente uma saída honrosa para a crise (exatamente como
Chamberlain e Daladier, em 1938). Frau Merkel está em contato direto com
Vladimir, que também tem conversado bem com Obama...
Portanto,
parece que o espírito de Munique deve imperar na crise da Ucrânia. Os russos
ficam com a Crimeia, os ocidentais saem eufóricos após conseguirem garantir a
integridade do território ucraniano (tá, porque a Crimeia, repita-se, não é
território ucraniano) e a manutenção dos exércitos russos do outro lado da
fronteira, e o mundo suspira aliviado porque não chegamos a um conflito direto
entre as grandes potências (exatamente como em Munique, em 1938).
Mas
falta um ator nesse cenário... Ah, sim! A Ucrânia! E como ficam os ucranianos?
Ficam na sala ao lado, esperando o resultado da negociação em que os ocidentais
os salvarão dos russos. Simples assim. E que os ucranianos possam se contentar
em manter sua independência e, de fato, a existência de seu país (exatamente
como aconteceu com os tchecos, em 1938).
Exatamente
como aconteceu em 1938, tudo ficará bem! Claro que, depois de perder os Sudetos,
a Tchecoslováquia entrou em colapso, seu território foi dilacerado, com outros
países tomando seus nacos ao norte, ao sul e ao leste, a economia entrou em
crise e, alguns meses depois, os alemães "marchavam pacificamente" sobre as ruas
da belíssima Praga, que seria a capital do Protetorado (alemão) da Boêmia e
Morávia. Sim, alguns meses depois da Conferência de Munique, a Tchecoslováquia
sucumbiu... Mas o mundo estava em paz... Até que, um ano depois, começou a II
Guerra Mundial.
Na
crise da Ucrânia, portanto, esperemos que tudo acabe de maneira pacífica, e que
seja restabelecida a harmonia entre os povos. Exatamente como aconteceu em
Munique, em 1938.