quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
A oligarquia deseja a depressão
Artigo no Alerta Total
– www.alertatotal.net
Por Adriano Benayon
É
hora de abrir o olho. Estamos no Brasil e no Mundo em situação especialmente
perigosa, de que há copiosas manifestações, cujas causas são sistematicamente
ocultadas, pois os que estão por trás delas, querem operar
despercebidos.
As
potências hegemônicas, suas associadas e satélites seguem em depressão
econômica, com aspectos mais perversos que os da iniciada em 1930 e que só
terminou, em 1943, nos EUA - com a mobilização de dezenas de milhões de
combatentes na Segunda Guerra Mundial, mais os vultosos investimentos para
produzir armas. Na Europa e na Ásia, a depressão foi substituída pela
devastação.
A
terrível Guerra de 1939 a 1945 não foi desencadeada para acabar com a depressão,
pois sempre os móveis são obter mais poder, arruinar potências vistas como
rivais e desviar o foco dos reais problemas sociais e
econômicos.
Agora,
desde a contra-revolução liberal dos anos 80, a financeirização e a concentração
do poder econômico e da renda deram grandes saltos, enquanto decai o patrimônio
e a renda real, no caso da grande maioria dos que trabalham e no da crescente
massa dos desempregados.
Essa
iniquidade jamais poderia ser tolerada sob sistemas democráticos. Assim, quase
nada resta do pouco de democracia, antes presente nos sistemas políticos
representativos, hoje mera embalagem, com rótulo falso, de um sistema tirânico,
que investe massivamente em contracultura, desinformação e alienação, há mais de
século.
Assim,
institucionalizou-se a mentira, e a verdade é reprimida através de instrumentos
totalitários, radicalizados desde os ataques
11.09.2001.
O
terrorismo de Estado dirige-se contra os cidadãos e é usado para marquetar,
como justas, agressões militares genocidas contra países alvos da geopolítica da
oligarquia angloamericana: Afeganistão, Iraque, Somália e
Líbia.
Além
disso, EUA, Reino Unido, Israel e satélites têm intervindo em numerosos países
com golpes e pretensas revoluções suscitadas por serviços secretos, mercenários
e organizações terroristas. Síria e Ucrânia são alvos preferenciais dessas
agressões, sem falar nas permanentes pressões e falsas acusações contra o
Irã.
O
prelúdio da Segunda Guerra Mundial, nos anos 30, também apresentou invasões e
conflitos localizados, e a ascensão de regimes fascistas (Itália, Alemanha e
Japão), além de na Espanha, após sangrenta guerra civil, de 1936 a 1939, com
participação de forças militares estrangeiras.
No
presente, a depressão econômica prossegue, bem como suas trágicas consequências
sociais. A oligarquia financeira está cada vez mais concentrada e tem cada vez
mais poder sobre os governos – à exceção dos demonizados, por não se submeterem
- pela mídia e pelas demais instituições formadoras de
opinião.
A
oligarquia não deseja acabar com a depressão - tarefa fácil, se fosse decidida
– e visa concentrar mais poder e tornar irreversível o controle totalitário
sobre o Planeta, seus recursos e habitantes. Isso envolve desumanizar os seres
humanos, inclusive acabando com as sociedades nacionais.
As
soluções para recuperar a economia podem ser entendidas por qualquer pessoa
sensata, não bitolada por lugares comuns disseminados pelos economistas mais
renomados (justamente por agradarem a oligarquia).
A
depressão dos anos 30 explodiu com violência, notadamente na Alemanha, exaurida
pelas reparações da 1ª Guerra Mundial. Ali o desemprego atingiu 6 milhões em
março de 1932.
Economistas
competentes, como Lautenbach, alto funcionário do ministério da economia,
mostraram o caminho correto, apoiado pela federação das indústrias, semelhante
ao plano de Woytinski, sustentado por sindicatos de
trabalhadores.
Em
1931, Lautenbach apresentou o memorandum “Possibilidades para reviver a
atividade econômica, através do investimento e da expansão do crédito”.
Afirmou:
“O
curso para superar a emergência econômica e financeira não é limitar a atividade
econômica, mas aumentá-la, porque o mercado não mais funciona nas condições de
depressão e crise monetária mundial.”
“Neste
momento, temos situação paradoxal, na qual, apesar dos cortes extraordinários na
produção, a procura ainda está defasada em relação à oferta. Assim, temos
excedentes crônicos da produção, com os quais não sabemos lidar. Encontrar algum
modo de transformar esses excedentes em valor real é o problema real e o mais
urgente da política econômica.”
“Excedentes
de bens físicos, capacidade não-utilizada dos equipamentos produtivos e força de
trabalho não-aproveitada podem ser aplicados para satisfazer uma nova
necessidade, a qual, do ponto de vista econômico, representa investimento de
capital. Podemos conceber tarefas como obras públicas, ou obras realizadas com
apoio público - que para a economia significariam aumento da riqueza nacional -
e que teriam de ser feitas de qualquer modo, quando se voltasse a ter condições
normais (construção de estradas, expansão do sistema ferroviário, melhoramentos
na infra-estrutura, etc.)”
“Com
tal política de crédito e investimentos, será remediado o desequilíbrio entre a
oferta e a procura no mercado interno, e toda a produção terá ganhado direção e
objetivo. Se, todavia, deixarmos de instituir tal política, estaremos
encaminhados para inevitável e continuado colapso e para a completa destruição
da economia nacional, levando-nos a uma situação que nos forçará, para evitar
uma catástrofe, a assumir dívidas de curto prazo meramente para fins de consumo;
enquanto que hoje, está ainda em nosso poder obter esse crédito para fins
produtivos e, assim, recolocar em equilíbrio tanto a economia como as finanças
públicas.”
Woytinski
recomendou explorar oportunidades de complementar as iniciativas das empresas
privadas com a criação de empregos, através de investimentos públicos. Propôs,
ainda, a liberação de fundos, via políticas de expansão monetária para a
reconstrução da Europa.
Em
janeiro de 1932 foi apresentado o plano de criação de empregos WTB (Woytinski,
Tarnow e Baade) para criar 1 milhão de novos empregos, com investimentos
financiados por créditos de longo prazo, a juros baixos, pela Reichskredit AG,
descontáveis no Reichsbank.
A
Confederação Geral dos Trabalhadores Alemães aprovou esse plano, recusado,
entretanto, conforme o parecer dos “peritos economistas” Hilferding, Naphtali e
Bauer, pelo Partido Social-Democrata..
Schäffer,
secretário de Estado do ministério das Finanças, apoiou o plano de Lautenbach.
Moção similar partiu de Wagemann, chefe do Escritório Nacional de
Estatísticas, que, em janeiro de 1932, publicou seu plano, que incluía emitir 3
bilhões de reichsmarks para criar empregos.
Nada
disso foi adiante, pois não interessava à oligarquia angloamericana. Esta armava
a subida de Hitler ao poder, mesmo tendo os nazistas perdido 2 milhões de votos
nas eleições de 6.11.1932.
Após
essas eleições, o presidente, marechal Hindenburg, nomeou chanceler o chefe do
Estado-Maior, general von Schleicher, que propunha pôr em execução as políticas
recomendadas por Lautenbach, Woytinski e Schäffer, e apoiadas por entidades de
classe patronais e dos trabalhadores.
A
oligarquia financeira tratou de evitar que von Schleicher sequer as iniciasse,
minando-lhe a sustentação política, enquanto conspirava na chantagem junto ao
marechal-presidente para nomear Hitler, consumada em
30.01.1933.
O
objetivo era a Segunda Guerra Mundial, pois Hitler anunciara no “Mein Kampf” seu
desígnio de atacar a União Soviética. Finalidade: empregos e recuperação
econômica só mediante a mobilização para a guerra, que destruiria mutuamente
Alemanha e Rússia.
Hoje,
o Estado é enfraquecido como agente de desenvolvimento econômico e social. Ele
serve, nos países-sede da oligarquia, para erguer enormes arsenais de armas
destrutivas e hipertrofiar órgãos de repressão, serviços secretos e meios
tecnológicos de desinformar.
Nos países
periféricos, como o Brasil, o Estado, empobrecido pelo serviço da dívida e pelas
privatizações, funciona para arrecadar recursos para a dívida e subsidiar
empresas transnacionais.
Com
a política econômica dominada pela oligarquia financeira, a concentração não
cessa de crescer. No trabalho The
Network of Global Corporate Control, publicado em 2011, os
matemáticos suíços, Vitali, Glattfelder
e Battiston, demonstraram a interligação das corporações econômicas e
financeiras por laços diretos e indiretos de
propriedade.
Com
dados sobre 43.000 transnacionais (ETNs), chegaram a 1.300 maiores companhias
com fortes elos entre si, núcleo refinado para um de só 737 companhias, que
controlam 80% das 43.000. Mais elaboração permitiu chegar a 147, detentoras da
propriedade quase total sobre si mesmas, mais 40% das
43.000.
As
147 são basicamente controladas
por somente 50, das
quais 48 são financeiras. Apenas duas envolvem-se diretamente com a economia
real (Walmart e China Petrochemical Group).
Susan
George, do Transnational
Institute, Amsterdam, conclui: “Nossos problemas originam-se do 0,1%, na verdade
do 0,001%.” Mas essa fração não retrata a dimensãoinfinitesimal, em relação à
população da Terra, da minoria que concentra o poder econômico, financeiro e
político.
De
fato, existe hierarquia entre os donos das companhias mais poderosas, e, entre
esses, muito poucos exercem comando sobre bancos centrais, instituições
financeiras multilaterais e mercados financeiros.
George
aponta as interligações entre a finança e as corporações de petróleo e gás, e
seus vínculos com a indústria automotiva, gastadora de combustíveis
fósseis.
O poder dos
concentradores financeiros manifesta-se, inclusive, pelo fato de o 1% do topo
pagar percentual de tributos inferior ao de qualquer época desde os anos 20,
apesar da enorme elevação de seus ganhos e de seu patrimônio nos últimos 35
anos.
Mais:
dezenas de trilhões de dólares/euros das emissões dos bancos centrais e das
receitas tributárias foram usados para salvar da bancarrota instituições
financeiras cujos controladores e executivos haviam lucrado dezenas de trilhões
com jogadas financeiras, em operações alavancadas, sobre tudo com o quatrilhão
de derivativos criados a impulsos de chips, antes do colapso de
2007/2008.
Pior:
o dinheiro posto nos bancos é aplicado em novas especulações, criando novas
bolhas, prestes a estourar. A conta fica para os cidadãos dos países
endividados, inclusive dos EUA, e maior para os dos menos privilegiados que não
podem emitir dólares.
No
Brasil, recordista mundial de juros altos, só dois bancos, Itaú e Bradesco
registraram R$ 28 bilhões de lucros em 2013.
Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.