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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

o que falta para o rei da cana ir em cana? JN

31/01/2014
 às 4:37

Lula, o maior ator do Brasil, prega a paz na Internet enquanto a sua turma prepara a guerra

Luiz Inácio Lula da Silva é o maior ator do Brasil, e não é de hoje que lhe reconheço essa qualidade, entre outras. E, destaco, ele vai melhorando com o tempo, conferindo sempre mais verossimilhança à sua fala. Por mais avesso que a gente seja ao PT e à sua pregação, há a tentação de considerar que Lula está sendo sincero.
O chefão do PT gravou um vídeo que foi postado em sua página no Facebook e está no YouTube. Lula fala sobre o papel da Internet na educação política. Quase não há reparos a fazer a seu texto, exceção feita à parte final, quando comenta o papel da imprensa. Ele e o PT ainda não entenderam qual é a função do jornalismo. Mas não chega a ser, nesse caso, um pecado mortal. Péssimas são as tentativas dos petistas de censurar a imprensa, mas isso não está caracterizado nesse vídeo. Vejam.
Destaco trechos de sua fala. Volto em seguida:
“Eu sou favorável a responsabilizar as pessoas que usam a Internet porque eu tenho liberdade de pegar uma estrada e fazer uma viagem com minha família, mas se eu for irresponsável, eu posso matar alguém ou posso morrer.”
“Quanto mais a gente trabalhar no sentido de falar coisas positivas, mesmo quando você critica, criticar com fundamento, e não ficar fazendo o jogo rasteiro da calúnia ou do baixo nível… Quando você calunia, você não politiza, você não ensina, você não produz um fruto.”
“Eu acho que a internet é uma árvore que pode produzir frutos novos todo santo dia se a gente tiver, ao sentar na frente de um computador, interesse de que alguém aprenda algo mais nesse país ou nesse mundo.”
“Eu, sempre que puder utilizar a Internet para passar uma mensagem que seja uma coisa positiva, uma coisa verdadeira, eu utilizarei. Jamais usarei a Internet para fazer uma calúnia contra quem quer que seja.”
Retomo
O vídeo vem a público dois dias depois de o PT anunciar que vai se articular com os movimentos sociais para… pautar a Internet e, como eles dizem, enfrentar os conservadores. Notem: a concepção é autoritária desde a origem, desde o princípio. Os movimentos sociais, por definição, não deveriam ter partido, certo? O que une aquelas pessoas, até onde se sabe, não é um partido, mas uma reivindicação.
Há mais: os petistas já criaram um grupo chamado “MAV” — Mobilização de Ambientes Virtuais. Como já afirmei aqui, trata-se de uma espécie de polícia política da Internet. Essa gente fica monitorando as redes sociais para “combater” seus adversários. Também invade as páginas pessoais de algumas pessoas conhecidas para patrulhar a sua opinião, desqualificá-las no caso de alguma discordância, intimidá-las. Sei do que falo porque a área de comentários deste blog enfrenta essa forma de assédio.
Ainda não é a pior parte. Todo mundo sabe que, por meio de publicidade da administração direta e de estatais, os petistas mantêm uma rede de blogs — que acabou ficando conhecida como “blogs sujos” — que têm como tarefa principal atacar figuras da oposição e a imprensa independente, além, claro!, de defender o governo.
E onde ficam esses limites de que fala Lula? Ora… Trata-se de um espetáculo grotesco de baixarias, vigarices, mentiras. Não faz tempo, um dos blogs da turma associou a imagem do ministro Joaquim Barbosa à de um macaco. LULA, PESSOALMENTE, TENTOU JOGAR NO COLO DA OPOSIÇÃO A COCAÍNA APREENDIDA NO HELICÓPTERO de um deputado e de um senador. Imediatamente a rede suja passou a replicar a baixaria, embora a Polícia Federal tivesse descartado o envolvimento dos próprios políticos com a droga. Isso tudo está documentado.
Quando, no entanto, a gente vê e ouve Lula no vídeo, é grande a tentação de considerá-lo uma espécie de líder moral, a dizer coisas sensatas. A campanha vem aí. E teremos, mais uma vez, a chance de ver do que são capazes.
Imprensa
Sobre a imprensa propriamente, Lula afirmou:
“Não é que eu quero que todo mundo fale bem do governo; a mensagem é que eu quero que todo mundo seja verdadeiro, seja para criticar, seja para apoiar o governo.”
“Está acontecendo muita coisa boa nesse país. Eu, às vezes, fico triste porque eu vejo televisão; começa de manhã, seis e quinze da manhã, eu estou vendo televisão, o cara já fala assalto não sei onde, morte não sei onde, batida não sei onde, eu fico pensando: ‘Será que não nasceu uma criança hoje no Brasil; será que ninguém foi bem atendido em algum lugar; será que não uma coisa boa pra gente mostrar sempre os dois lados da moeda’?.”
Vamos ver
Trata-se de um apanhado de bobagens. Pra começo de conversa, existem mais instâncias de opinião que não as favoráveis e as críticas ao governo. Essa fala de Lula traduz a sua mentalidade estatizante, governo-dependente, própria de um partido que aparelhou o estado.
De resto, sempre que a imprensa tem uma “boa notícia”, esta merece o devido destaque. Lula não sabe, ou finge não saber, que a imprensa é um dos instrumentos de que dispõe a sociedade para apontar o que não vai bem, para tentar corrigir problemas, daí sua aparente inclinação para a má notícia.
Eu proponho outra questão a este senhor: que tal se a propaganda oficial do governo começar a revelar também os problemas para mostrar os dois lados? Que tal se isso fosse feito inclusive nos pronunciamentos oficiais? Assim, nesta quarta, em vez de apenas cantar as suas supostas glórias, o ministro Alexandre Padilha teria se desculpado pelos 41 mil leitos do SUS que desapareceram entre 2005 e 2012.
Texto publicado originalmente às 22h31 desta quinta
Por Reinaldo Azevedo