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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

18/02/2014

Promessa Brasileira
Por Márcio Coimbra, Cientista Político
Institute of World Politics, Washington, DC
marciocoimbra@gmail.com

No Brasil, o entusiasmo virou preocupação, para não dizer decepção.
Nosso País, visto na última década como a grande promessa, parece cada
vez mais continuar a ser exatamente isso, uma grande promessa. O
histórico de oportunidades perdidas é imenso, mas a situação que temos
presenciado nos últimos meses preocupa mais do que no passado. Os
problemas são novos, mas os remédios são os de sempre e isto
entristece.

Black blocks, manifestações e violência nos centros urbanos são o
resultado de uma equação: a pressão do aumento de renda da população
versus os resultados do fim de um ciclo econômico artificial ou
demanda ampliada da população versus oferta reprimida do Estado. No
passado recente houve um aumento do poder de compra com origem no
plano de estabilização da moeda, ainda no governo Fernando Henrique.
Depois disso, a ampliação mediante os programas de transferência de
renda durante a administração Lula. Avançamos em direções importantes,
em especial em programas sociais que atuam onde existe miséria, mas
mostramos ineficiência em tantas outras. Se de um lado foi possível
aumentar a renda, do outro os gargalos para atendimento desta demanda
ficaram latentes. As revoltas atuais são um resultado desta realidade.

Chegamos a uma situação crítica, que no Brasil sempre pode piorar. A
classe média, espremida entre a falta de infra-estrutura e a
violência, clama por uma solução, especialmente repressiva, para fazer
cessar o mal iminente. A necessidade de repressão, entretanto, é
simples consequência de um modelo esgotado que gera revolta. A origem
dos problemas não está na violência em si, latente para quem convive
com sua ameaça, mas naquilo que gera a indignação.

É preciso entender que o modelo de aumento de renda puro e simples
está esgotado. O Brasil precisa ir além. Como não houve avanço em
outras frentes, colhemos este triste resultado. Houve falta, entre
outras coisas, de uma política consistente de educação e uma guinada a
um modelo econômico menos repressivo, que apesar de transferir renda,
não garantiu uma evolução natural para um sistema sustentável.

O Brasil atuou de um lado da equação. Por si só a estabilização gerou
aumento do poder de consumo. Tivemos, portanto, um aumento de demanda,
seja por meio dos programas de transferência de renda, milionários
empréstimos concedidos pelo BNDES ou financiamentos imobiliários da
Caixa, entre tantos outros. Criou-se uma bolha, ou seja, um excesso de
renda sem pilares claros de sustentação em uma economia real. A bolha
está estourando em manifestações e revoltas, em especial da classe
média.

Tínhamos dois modelos a seguir depois da estabilização. Realizar
reformas que desafogassem a economia e impulsionasse a criação de
novos empreendedores, por meio de desregulamentação e flexibilização,
ou uma intervenção do Estado direcionando os rumos da economia,
similar ao vivido pelo país na década de 70. O Brasil optou pela
segunda opção.

Entretanto, esta alternativa exige do Estado prestações muito pesadas,
seja por meio de investimentos diretos ou financiamentos. Enquanto a
renda aumentava em função do plano de estabilização da moeda,
concursos públicos, subsídios ou mesmo bolsas de ajuda do governo, a
demanda por mais infra-estrutura e serviços também avançava. Mais uma
vez, assim como na década de 80, vimos que o Estado não foi capaz de
financiar e executar a sua parte, em especial obras como portos,
aeroportos, saneamento, energia e estradas. Os gargalos apareceram. A
demanda da população colidiu com a ineficiência estatal.

A pressão esta posta. Uma população que possui maior renda e agora com
maior demanda esbarra na falta de infra-estrutura e nas regulações
criadas pelo governo que emperram a livre iniciativa. O encerramento
do ciclo do crédito e o estrangulamento da capacidade de financiamento
do Estado leva a esta situação paradoxal que vivemos hoje. Existe a
falta de perspectiva de uma economia sólida para sustentar este ciclo
de crescimento que já respira por aparelhos. A saída na década de 90
foi privatizar, mais por necessidade do que por convicção. A pressão
do momento levou o governo a começar a tomar, ainda de forma tímida e
pontual, o mesmo caminho.

O Brasil vem perdendo, mais uma vez, um momento histórico de
oportunidade. Nosso problema latente é a violência, mas precisamos
entender que isto é a consequência de apostas equivocadas. O ponto
central é a economia. Terminar com a violência exige um tratamento de
fundo que vai muito além da repressão e passa por reformular de
verdade as bases da educação e principalmente da economia. Isto leva
uma geração. Aprendemos que o Estado, quando tenta induzir o
crescimento, acaba por limitá-lo. Aprendemos que aumentar a renda, sem
a base de uma economia sólida e um sistema de educação decente, gera
conflitos e violência. Já chegou a hora de lidar de forma madura com
nossos problemas.