Do editor
Não vou comentar sobre a Taís, a conheci bem pequena, não tenho nada de bom para falar sobre ela, principalmente depois que se transformou em " A contadora de estória".
Publicado em 28 Janeiro, 2013por liciomaciel
Guerrilha do Araguaia: uma Resposta a dona Taís
Por Carlos
I.S. Azambuja -em 28 de
dezembro de 2004
© 2004 MidiaSemMascara.org republicado no Blog do Lício 28 01 2013
© 2004 MidiaSemMascara.org republicado no Blog do Lício 28 01 2013
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Um site na Internet, www.guerrilhadoaraguaia.com.br, agora, 30 anos após os
fatos, destina-se especificamente a glorificar de forma despropositada os
guerrilheiros do Araguaia.
Em um dos artigos ali contidos – “A Guerrilha do Araguaia sob
outro Prisma” -, a jornalista e uma das responsáveis pelo site, Taís Morais que, por uma estranha
coincidência é também jornalista do Correio Braziliense, jornal que recentemente num “furo de reportagem”, publicou algumas fotos de um
padre, dando-o como sendo Vladimir Herzog, inventa uma pequena história dizendo
ser “a verdade sobre a Guerrilha do
Araguaia”.
Inicia o artigo referindo-se à “tão sofrida, tão abandonada e
tão torturada” (sic) população “da região do Bico do Papagaio”. Prossegue, escrevendo que “é claro que os sobreviventes da Guerrilha do Araguaia são heróis. Assim como os assassinados depois de presos. Os abatidos em porões
da ditadura ou cruelmente assassinados nas ruas das metrópoles também têm seu
valor. Quanto aos guerrilheiros mortos em combate, uma salva de palmas para
eles (…) A juventude PC do B, impulsionada pela flama da paixão patriota, deve
ter se orgulhado de tombar na luta pela melhoria de vida da população …”
Prossegue a dona Taís: “Numa
luta armada com armas velhas e munição insuficiente para enfrentar um Exército
que em vez de compreender as aspirações de liberdade (sic),executava a sangue frio o
pequeno contingente disposto a brigar”.
Ao final, uma ode aos civis e militares que lutaram e morreram
no Araguaia. “Homens que não escolheram ir para o Araguaia. Decidiram por
eles”.
O
que a dona Taís como jornalista não poderia deixar de saber e, sabendo, a ética
profissional deveria tê-la impedido de enganar seus leitores:
Que não foi o Exército quem
inventou a Guerrilha do Araguaia.
Que na década de 60 e
início da de 70, a tática utilizada pelo modelo cubano de revolução em toda a
América Latina consistia em utilizar um pequeno grupo de revolucionários
dispostos ao sacrifício. Esses revolucionários obtinham armas, montavam um
razoável sistema de abastecimento, de propaganda, sabotagem e recrutamento nas
cidades e transformavam-se em um foco militar e político, um foco guerrilheiro,
que deveria catalisar todas as rebeldias e ir crescendo de forma inexorável,
até transformar-se em um exército popular, ganhar a população, derrotar o
inimigo e empolgar o Poder. Ora, os fatos comprovam que essa tática revelou-se
uma utopia e causou uma montanha de mortos.
Que o esquema chinês, que o Partido Comunista do Brasil tentou transferir para as selvas do Araguaia, consistia no cerco
das cidades pelo campo através de uma guerra popular prolongada. Foi esse o modelo importado
pelo PC do B, após mandar um grupo de militantes receber treinamento armado na
Academia Militar de Pequim, ainda no governo João Goulart quando não existia
nenhuma ditadura e nenhum governo militar. Esse grupo saiu do Brasil em 29 de
março de 1964!
Que ao contrário do
que escreveu a dona Taís, os guerrilheiros do Araguaia nunca conseguiram um
real e efetivo apoio da rarefeita população da área em que se instalaram,
constituída, em sua quase totalidade, por camponeses oriundos do Norte e do
Nordeste do país, com quase nenhum grau de instrução, sem condições
intelectuais, portanto, de absorver a sofisticada ideologia científica. Nesse sentido, em abril de 1972, 6 anos
após a chegada dos primeiros guerrilheiros, egressos de Pequim à área
estratégica, ainda não se sentiam seguros para iniciar o trabalho de cooptação
ideológica dos moradores locais. Procuravam apenas buscar o reconhecimento da
sofrida população através de precários atendimentos médicos e farmacêuticos.
A dona Taís deveria saber,
e se sabe e não escreveu foi por absoluta ausência de ética, que em 1966,
quando o núcleo da guerrilha chegou ao Araguaia ainda não haviam eclodido os
distúrbios estudantis – que tiveram seu ápice no Maio francês e no Brasil em
1968 – e a guerrilha urbana estava ainda em seu estágio inicial, marcada pela
bomba explodida no Aeroporto dos Guararapes, em 25 de julho de 1966.
Deveria saber que, na
verdade, o senhor João Amazonas, dirigente máximo do PC do B desde que ele foi
constituído e a senhora Elza Monerat, integrante do Comitê Central do partido,
responsável pela tarefa de conduzir de São Paulo para o Araguaia os jovens militantes
recrutados nas cidades – ambos já falecidos –, é que deveriam ter sido
responsabilizados pelos familiares dos mortos na louca empreitada por eles
imaginada, abandonados, pela direção do partido, à própria sorte, sem as
mínimas condições de sobrevivência e de luta. Ambos desertaram em abril de
1972, no início da luta, refugiando-se em São Paulo e não mais voltando ao
Araguaia.
Seguramente a dona
Taís, estudiosa do assunto, não desconhece que de acordo com os manuais da
doutrina científica o proletariado é que seria o coveiro do capitalismo. No
entanto, dos guerrilheiros recrutados
para o Araguaia, 44% eram estudantes universitários, 8% secundaristas, 16%
profissionais liberais e 12% comerciários, bancários e outros. Ou seja, mais de
70% dos militantes engajados pelo partido na louca empreitada não eram
operários, força motriz da revolução. Operários eram apenas 6%. Isso tem um
significado: o fraquíssimo enraizamento do partido do proletariado nesse mesmo
proletariado, considerada a categoria social básica para o êxito da luta
revolucionária. Isso foi reconhecido pelo ex-guerrilheiro Jose Genoíno Neto em
uma avaliação tornada pública em 1979 e também deveria ser cobrado, pelas
famílias dos mortos, ao senhor João Amazonas.
Certamente a dona
Taís, como jornalista que é, não desconhece que o senhor João Amazonas, em 16
de maio de 1996, ao prestar depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, distorceu os fatos, alegando que a luta foi desencadeada em “favor dos oprimidos” que a guerrilha era uma “resposta do povo ao Ato Institucional nº 5 (de 13 de dezembro de 1968)
(!) e que os militares “atuaram como bárbaros, violando
a Convenção de Genebra”. Ao final de seu
depoimento, João Amazonas, com desfaçatez, considerou o Araguaia “uma grande experiência”.
Também a dona Taís
certamente não deve ignorar que a
Convenção de Genebra não se aplica a guerrilhas, bem como que as perguntas
formuladas ao senhor João Amazonas, nessa Comissão, foram feitas pelos deputados Inácio Arruda, Socorro Gomes, Haroldo Lima, Aldo Arantes,
Jandira Feghali, Aldo Rebelo, Sergio Miranda e Lindberg Farias, TODOS, na
época, membros do partido por ele dirigido. Ou seja, foi
montado um pequeno circo, tendo faltado apenas a lona!
A dona Taís deve
também saber, embora não tenha escrito, que a guerrilha possuía leis próprias,
como um “Tribunal Revolucionário”, criado pela “Comissão Militar” que dirigia a guerrilha, e que esse “Tribunal” (eludindo a
Convenção de Genebra citada por João Amazonas) “justiçou” pelos menos dois integrantes da própria guerrilha (“Mundico” e “Paulo”) que ousaram pensar com a própria cabeça e imaginaram poder
abandonar a guerrilha, bem como três habitantes da região, por suspeita de colaboração com
as Forças da Ordem, considerados, portanto, segundo a cartilha imposta pelo
senhor João Amazonas, “inimigos do povo”.
O “Regulamento da Justiça Militar
Revolucionária” definia as “penas” para as faltas
consideradas graves dos guerrilheiros, bem como para os “inimigos do povo” capturados.
Em verdade, os “justiçamentos” são abençoados por
Frei Betto, que em um livro de sua autoria “Nos Bastidores do Socialismo”, página 404,
escreveu: “Quero deixar claro que admito a pena de morte em uma exceção: no
decorrer da guerra de guerrilhas”.
A dona
Taís certamente não deve também ignorar que toda uma série de crimes foi
praticada pelos que se aventuraram na violência armada, na cidade e no campo.
Livros recentemente escritos por militantes que sobreviveram revelam esses
crimes. Não deve ignorar também, em suas pesquisas sobre o Araguaia, que o
primeiro morto foi um militar.
É sim, verdade que,
à vista disso, os militares envolvidos no combate à guerrilha, de moto próprio,
seguiram à risca o que os Serviços de Inteligência de Israel fizeram após o
massacre de Munique, em 1972, quando então a Primeira-Ministra de Israel, Golda
Meir, ordenou “matar os que mataram”.
Finalmente, a
jornalista dona Taís talvez não saiba que os promotores da guerrilha, que desde
o primeiro momento sabiam da relação dos mortos e desaparecidos na louca
empreitada, NUNCA
informaram aos familiares desses mortos e desaparecidos o destino de seus
filhos e irmãos. Talvez também não saiba
que a direção do PC do B, partido que agora integra o governo, NUNCA fez uma
autocrítica da Guerrilha do Araguaia, como se nada houvesse acontecido e
continua, através de determinada mídia, a atribuir a culpa pelas mortes,
prisões e desaparecimentos à “repressão desencadeada pela
ditadura militar”.
E mais: em 1982, em
seu 6º Congresso, o PC do B, com o partido já depurado dos militantes que o
abandonaram, atribuiu, cinicamente, a fragorosa derrota sofrida no Araguaia, a “desacertos e insuficiências de natureza militar”,descartando suas
responsabilidades, criticando o maoísmo e apontando a Albânia como único país
que permanecia fiel ao socialismo.