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Charutinhos, seus camaradas cubanos vão lhe enviar. Assim o ajudarão a continuar a bolar novas estratégias para a tomada do poder! |
De Passagem Por Paulo de Tarso Venceslau Um
misto de alegria e tristeza tomou conta de mim quando foi computado o
voto do Ministro Marco Aurélio de Mello, que estabelecia a maioria
necessária para o STF condenar José Dirceu de Oliveira e Silva,
ex-ministro chefe da Casa Civil do governo petista de Luís Inácio Lula
da Silva. Alegria, por causa da certeza que a democracia venceu a
queda de braços com a burocracia petista. Tristeza, por ver um antigo
companheiro ser
condenado por práticas que não condizem com os anseios da sociedade brasileira quem ele insiste em ignorar.
Caminho tortuoso Zé Dirceu,
como é conhecido o ex-ministro, não é mais o mesmo que conheci nos anos
1960 e que voltei a reencontrar no final da década seguinte,quando eu
acabava de cumprir mais de cinco anos de prisão política e ele vivia
clandestinamente no interior do Paraná, desde seu retorno de Cuba.
Dúvidas
e mistérios existem desde então. Entre os remanescentes da antiga Ação
Libertadora Nacional - ALN, uma organização guerrilheira que assumiu a
luta armada como a principal forma para se combater a ditadura,Dirceu
era acusado de ser um agente da G2, serviço secreto cubano, usava farda
militar de combatente da revolução, ninguém sabia onde ele morava,
deslocava-se em veículos do estado cubano e fumava charuto
nacional (cubano). Os militantes da ALN, por outro lado, viviam clandestinamente em Cuba, mal alimentados, fumavam cigarros populares e charuto só em condições muito especiais.
Em
meados dos anos 1990, eu trombei de frente com Lula, liderança máxima
do PT, por causa da defesa que ele fazia de seu compadre Roberto
Teixeira em suspeitos contratos de prestação de serviço a prefeituras
comandadas por petistas. Esse episódio levou à minha expulsão
do PT em fevereiro de 1998.
Era
ovo da serpente, metáfora usada para exprimir a constatação de um mal
em processo de elaboração, em incubação. Durante o desenvolvimento desse
ovo, pode-se acompanhar a lenta e inexorável evolução do monstro que
está se criando.
Dirceu já vivia um dilema
desde 1994. Na ocasião, chegou a afirmar que Lula era uma ameaça para a
esquerda brasileira por falta projeto, ideologia e valores éticos e
morais.
Naquele ano, após disputar o governo
paulista, Dirceu se dizia frustrado com os rumos do PT. Lula havia
disputado a presidência da república pela segunda vez. O ex-ministro
ameaçava o próprio quando dizia que não arcaria com os estragos
políticos provocados pelos recursos da Odebrecht que entraram na
campanha presidencial através da sua.
O clima
era tão tenso que Dirceu chegou a anunciar seu afastamento do PT para
trabalhar como advogado pela primeira vez na vida. Para tanto,
associou-se
a duas advogadas petistas em um escritório alugado na Vila Mariana,
imediações da estação Santa Cruz. O escritório, porém, ainda não havia
iniciado suas atividades quando, em 1995, Lula e Dirceu pactuaram um
acordo (as bases são desconhecidas até hoje) que resultou na eleição de
Dirceu para a presidência do PT. O acordo perdurou até a eleição de Lula
em 2002, que fez de Dirceu o homem forte do primeiro
governo petista. Sem dúvida, foi um acordo vitorioso.
Sonho doentio pelo poder absoluto
Dirceu
sempre teve uma obsessão pelo poder. Foi essa ambição desmesurada pelo
poder que quase levou de roldão o governo de Lula em
2005,
ameaçado de processo de impeachment pelo Congresso Nacional por causa
do mensalão. Foi essa megalomania que acabou com sua carreira política e
poderá transformá-lo em preso comum.
Obcecado
com a construção de sua candidatura à sucessão de Lula em 2010, Dirceu
abriu flancos que o fragilizaram e o conduziram à recente
condenação
por corrupção ativa pelo STF. Durante os três primeiros anos do governo
Lula ele não pensava e não fazia outra coisa além de
costurar
apoios e alianças que julgava imprescindíveis para seu sucesso em 2010.
O próprio Lula sentiu-se incomodado com a desenvoltura de Dirceu na
condução política de seu governo e, por isso mesmo, recusou a proposta
de seu ministro da Casa Civil que insistia em uma aliança mais sólida e
profunda com o PMDB.
Lula tinha certeza que
naquele momento a aliança proposta o faria refém de Dirceu e de seus
aliados pessoais junto ao PMDB. Curiosamente,
após
o afastamento de Dirceu da Casa Civil, Lula retomou a mesma aliança em
2006, que o reelegeu, garantiu sua governabilidade até 2010 e elegeu sua
sucessora com Michel Temer como vice. Havia, porém, uma pequena enorme
diferença: era Lula quem comandava e não mais seu ex-ministro.
Um charuto para o Zé
Defenestrado
do governo, Zé Dirceu transformou-se da noite para o dia em um bem
sucedido “consultor”, embora, às vezes, tentasse enganar os mais
desavisados afirmando que vivia de honorários de advogado. O sucesso
dessa empreitada como “consultor” transformou-o em um homem muito rico
graças ao estreito vínculo que ainda mantém com o governo cubano (leias e
G2); e o controle que exerce sobre a máquina administrativa do governo
federal.
A sua condenação poderá levá-lo à
prisão. Caso isso ocorra, terá de enfrentar um novo desafio: manter o
controle do PT e da máquina administrativa federal da mesma forma que o
crime organizado o faz de dentro dos presídios. Eu não duvido.
A
fase outonal da vida já me ensinou alguma coisa. Por exemplo, durante
os mais de cinco anos que passei como preso político da ditadura, ele
sequer me levou um único cigarrinho. Poderia ter enviado por outras pessoas como muitos outros companheiros o fizeram.
Mas
eu não farei o mesmo. Assim que ele for enjaulado como preso comum,
juro que não deixarei que lhe falte charuto nacional, brasileiro.
Infelizmente, não tive uma carreira tão brilhante como a dele a ponto de
poder comprar-lhe Cohiba, Partagas, Montecristo ou Romeu y Julieta.
Deixo essa parte para seus amigos da G2.
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