Na obra, o
historiador aborda as nuances do maior esquema de corrupção do país, analisa as
sessões e sentenças
São Paulo - Está
previsto para o final de novembro o lançamento do livro Mensalão – o julgamento
do maior caso de corrupção da história política brasileira, de autoria do
historiador Marco Antônio Villa, pela editora LeYa.
Em mais de 300 páginas, Villa faz uma
apresentação do Mensalão, desde as primeiras denúncias feitas a partir da CPI
dos Correios, até o fim do julgamento, quando 13, dos 25 acusados, foram
condenados. Ele analisa cada capítulo do processo que considera um momento
único na história do Supremo Tribunal Federal (STF) e da República Brasileira.
“Nunca houve um julgamento tão transparente como esse”, afirma.
Mestre em Sociologia pela
Universidade de São Paulo (USP), doutor em História Social também pela USP, o
autor é professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Já publicou
as seguintes obras: Breve História do Estado de São Paulo (2009); 1932: imagens
de uma revolução (2008); Jango, um perfil,1945-1964, (2004) e O Partido dos
Trabalhadores e a política brasileira – 1980-2006 – (2009).
Como é feita a
abordagem do julgamento do Mensalão no livro? O
livro é um histórico do escândalo. Situa o leitor desde o início da denúncia,
em 2003, com destaque especial para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
dos Correios – uma das mais importantes da história do Congresso Nacional -,
até a entrega dos relatórios, em 2006, quando foi aberto o inquérito 2545 na
justiça federal mineira, até o encaminhamento ao STF, em 2007, com o
recebimento da denúncia. Faz uma análise de cada sessão, ao todo 39, até as condenações.
Como o senhor
analisa o julgamento para o desenvolvimento do país? Quais as implicações
sociais dessas condenações? A transmissão
ao vivo pela TV que permitiu aos cidadãos conhecerem o funcionamento do poder
jurídico, até então desconhecido da maioria dos brasileiros. Além disso,
destacamos a transparência do processo, que seguiu as disposições legais,
constitucionais e democráticas, onde todos os acusados tiveram ampla defesa, e
as condenações foram públicas.
Como o senhor
avalia este momento histórico? O
resultado foi muito bem recebido pela população, sinalizou o fim da era da
impunidade. Esse momento acabou com o mito de se cometer crimes e contratar um
advogado famoso que, com subterfúgios legais e mecanismos existentes na
legislação, pode diminuir penalidades ou mesmo inocentar culpados. Isso acabou.
Um momento único na história do Supremo Tribunal Federal e da República
Brasileira.
Qual sua
expectativa? Gostaria que o julgamento
tivesse acontecido de maneira mais rápida. Em termos de administração, foi
confuso e isso fez com que nesse momento as penas ainda não tenham sido
determinadas. Isso pode aumentar as pressões para diminuição de penas. Mas
creio que da mesma forma como as pressões não levaram às absolvições da maioria
dos réus, essas possíveis pressões fracassem. Creio que os ministros vão manter
a dignidade e escolher as penas certas para todos os condenados.
Muitos petistas
argumentam que o julgamento está sendo pautado por uma imprensa contrária ao
PT. Os petistas conhecem bem o conceito
de justiça em Cuba e Coréia do Norte, mas não conhecem o funcionamento da
justiça na democracia. Nunca houve um julgamento tão transparente como esse.
Uma declaração dessa só pode vir de alguém que desconhece o funcionamento da
justiça ou o faz de forma leviana. E vindo dos petistas, eu não me admiro.
Inclusive, é bom lembrar que, em 2005, a direção do PT foi condenada pela
Suprema Corte.