20/11 - Os equívocos do alheamento das Forças Armadas. |
PChagas
Caros amigos!
Diante
da “virada da bandeira” protagonizada de forma auspiciosa e exemplar
pelo Supremo Tribunal Federal e a maioria de seus Ministros, sinto-me
motivado a voltar, mais uma vez, ao foco dos meus anseios de cidadão e
de soldado, fazendo votos para que o sucesso e a proeminência
conquistados pelo STF não sejam interpretados pelas Forças Armadas como
mais uma razão para o silêncio, já que, na opinião dos tímidos, basta
esperar, porque haverá sempre alguém para, antes deles, tomar a
iniciativa e dizer e fazer o que é preciso.
Desde
o fim dos Governos Militares, temos sido testemunhas do processo de
afastamento voluntário dos militares da vida política nacional. Processo
lógico e natural, após o período marcado pela ordem
contrarrevolucionária de 1964.
A estratégia adotada foi a do silêncio, apostando
no amadurecimento do pensamento político e da consciência popular sobre a
importância das Forças Armadas para a Nação, não apenas durante tempos
de exceção, mas em todas as épocas e circunstâncias.
Como
consequência, as FA podem orgulhar-se dos elevados índices de prestígio
e confiança que conquistaram junto à sociedade, em uma época em que
impera a desonestidade, a corrupção, a impunidade, a compensação do
crime, a malversação e a apropriação de recursos públicos, a ameaça à
integridade e à soberania, entre outras enfermidades da moral!
Em
contrapartida, com o passar do tempo, embora não tenham deixado de
pensar o Brasil, transformaram o silêncio em receio de dizer o que
pensam! Deixaram de ser protagonistas para aceitar a posição de plateia
privilegiada, mas, sem direito a manifestação.
Mesmo
sabendo que o prestígio oferece o respaldo da fé pública e que a
democracia dá direito de voz a todas as correntes de pensamento, até
mesmo aos que contra ela, permanentemente, conspiram, as FA ainda
preferem manter-se alheias à atividade dos políticos e aos prejuízos que
seu desregramento tem causado à Nação.
Como
instituições e como segmento da sociedade, as FA têm direito à opinião e
o dever democrático e constitucional de torná-la conhecida e de com ela
contribuir para a segurança do Estado e para a construção da opinião
pública, base de sustentação da democracia.
O
silêncio prolongado, transformado em temor do contraditório e pretexto
para não assumir as conseqüências da participação e da argumentação, tem
como reflexo a baixa da autoestima, a desastrosa evasão dos quadros
mais jovens e, até pouco tempo, o descaso de sucessivos governos para
com o seu indelegável dever de prover os meios de guarda e de defesa da
Nação.
A fuga do debate tem levado a graves
equívocos, como o de aceitar, sem contestação, mentiras sobre um passado
que até ontem era motivo de orgulho e comemoração. Ou como o de não
defender e propalar a verdade histórica, como se dela não houvessem
tirado ensinamentos e, pior, o de adotar uma atitude de vergonha desse
passado, imposta pelos que, por fanatismo, ignorância ou inocência,
levaram a Nação ao uso extremo do último de seus recursos.
A
timidez tem levado as FA a pensar que a disciplina as obriga a segar e a
ensurdecer diante da evidência do malfeito e a emudecer diante de
ordens cujo cumprimento põe em dúvida a observação dos princípios que
sempre nortearam as atitudes dos militares brasileiros e que, por via de
consequência, deve exigir explicações, esclarecimentos e até
argumentada contestação, tão ostensivos quanto a publicidade das ordens!
É
equívoco grave permitir que a Nação imagine suas Forças Armadas
divididas pelo tempo, separadas pela própria história, e desinteressadas
pela garantia da liberdade democrática, desavergonhadamente ameaçada
por atitudes imorais orientadas para inconfessáveis desígnios de poder
total.
Continuo a entender, portanto, que as
Forças Armadas não têm o direito de permanecer indiferentes, ausentes,
tímidas e inertes diante do dever de defender a verdade sobre si
próprias e os interesses da Pátria em todos os campos de atuação do
poder nacional!
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