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sábado, 28 de julho de 2012

O QUE OS PeTralhas fizeram com a a nossa UNB (jn)

UnB em queda! Ou: “O termômetro está quebrado! Joga ele fora!”
Posted: 26 Jul 2012 04:45 PM PDT




*Por Lucas Bispo


Quarenta graus de febre! - acusa o termômetro. Qualquer pessoa razoável se preocuparia com o fato. Talvez o paciente fosse levado a um médico, talvez recebesse imediatamente um anti-térmico. Mas, surpreendentemente ou não, em meios mais acomodados da nossa sociedade, a solução parece ser outra bem mais... digamos... simples.


“O termômetro está quebrado! Joga ele fora!”


É mais ou menos assim que a nossa Universidade se comportou em face da publicação da versão 2012 do ranking QS Universities Latin America. A UnB decaiu da 11ª posição entre as melhores universidades do continente para a 25ª colocação. A resposta imediata da Administração Superior da Universidade foi, antes de realizar qualquer outra reflexão mais humilde, como reconhecimento de suas deficiências, requerer aos artífices do ranking uma clarificação sobre a metodologia da pesquisa.


É neste momento, nas conversas que contemplam este tema, que alguém vem retrucando e dizendo que esses rankings “não valem de nada”, que são “medições míopes”, que são incapazes de avaliar o verdadeiro valor da universidade para o meio onde está inserido, o papel transformador, transgressor, revolucionário ou sabe-se lá mais ao que acreditam que a universidade deveria se prestar. Muito bem.


Duas coisas me chamam a atenção nestas colocações. Em primeiro lugar, eu fico me perguntando... e aí? Se nós tivéssemos melhorado nossa colocação, estaríamos tão incomodados, culpando o índice de sofrer de patologias ou estaríamos ocupados demais celebrando a nossa “excelência”? Em segundo lugar, me espanta perceber o que certas pessoas acreditam que deve ser o papel da universidade. Não contemplarei aqui todas as visões alternativas, apenas direi aquilo que acredito ser o papel da universidade de verdade. Senhoras e senhores! O papel da Universidade é, não apenas um ou dois, mas na verdade três: realizar ensino, pesquisa e extensão.


Neste sentido, é de se espantar que a UnB figure mesmo como a 25º melhor do continente ou como uma das melhores do Brasil. Acompanhe o raciocínio.


Ensino implica professores e alunos reunidos, discutindo, debatendo, ensinando e aprendendo. Entretanto, a cada dois anos, esse fenômeno tão característico das Universidades, comumente referido em vernáculo corrente como “aula”, cessa na UnB, por um motivo ou por outro, como é bem sabido.


A pesquisa, por outro lado, é uma atividade que requer uma pesada estrutura de apoio que, devo confessar, é difícil de obter. Por exemplo, são precisos laboratórios sem goteiras, como também financiamento. Entretanto, a nossa Universidade, como se já se bastasse orçamentariamente, se fecha sistematicamente a receber qualquer aporte privado de recursos, porque, claro, a iniciativa privada vai desvirtuar a pesquisa na universidade, promovendo agendas capitalistas, demoniânicas e heréticas. Os professores, por outro lado, por vezes precisam de recursos e de vencer a burocracia para se deslocar a outros lugares do país ou do exterior para encontros e congressos. Mas burocracia é coisa de casa.


E tem também a questão da extensão. Extensão deve compreende-se como a universidade estendendo ao conjunto da sociedade os frutos de seu trabalho. Mas se a gente peca no ensino e a pesquisa só anda à duras penas, eu pergunto: Que bons frutos, nós temos a oferecer para a sociedade? Dou um exemplo mais concreto. Somos hoje um país que carece fortemente de profissionais da área de tecnologia, cujas empresas carecem de inovação. Mas a Universidade, que deveria promover a economia de desenvolvimento e competitividade sequer dispõe de um parque tecnológico, à exemplo de outras universidades do país um pouco menos piores que a nossa.


E aí dizem que o índice é míope e eu sou obrigado a concordar. O índice, por exemplo, é insensível ao fato de o RU ficar quase mais tempo fechado do que aberto em qualquer ano. É insensível às constantes quedas de energia no campus. É insensível à situação da Assistência Estudantil, que deveria, em teoria, prover recursos para a aliviação das assimetrias socio-econômicas entre os estudantes, facilitando-lhes aos mais pobres os meios para superar sua condição de relativa exclusão social. Sem embargo, somos a 25ª melhor instituição do continente


A moral da história é que a real surpresa não é a queda no ranking e sim a manutenção de posições relativamente destacadas neles, o que reflete, antes de qualquer coisa, não que estejamos bem, mas que as demais conseguem a proeza de estar ainda pior.



*Lucas Bispo é estudante de Economia e conselheiro discente no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da Universidade de Brasília. É membro da Aliança pela Liberdade desde 2012.