14/04 - Comissão Revanchista da Verdade. |
Odilon Cabral Machado (Professor Emérito da Universidade Federal de Sergipe) As patrulhas ideológicas são terríveis! Elas sempre se servem do preconceito para afirmar inverdades e macular as pessoas. Como ousas defender a ditadura militar? Estás insano? Pergunta-me alguém que se crê democrata e aberto a todas as ideias e crenças, mas estabelece guetos e camisas de força, evitando a discussão do problema para distorcer qualquer versão que conflite o pensamento hegemônico da historiografia oficial. Para estes, a História tem que permanecer falseada, romanceada e deturpada, criando heróis aos montes, remunerando indenizações milionárias, exaltando feitos vazios em brio e coragem, sem falar da necessidade cartorial de certificar milhões de mártires insepultos. Mas, como o mote é descobrir ossadas produzidas pelo arbítrio da “ditadura militar”, eu, à falta de prova maior consistente com a história mundial comparativa, entendo o regime dos Generais Presidentes como uma “ditabranda”, termo crescentemente em voga por verdadeiro, porquanto os excessos cometidos, assumidos e relatados, longe de serem considerados extremamente cruéis e desumanos, teriam sido bem piores não fosse a ação saneadora e pacificadora dos homens que comandavam o regime. Porque o torturador não está somente disponível para um Béria, um Himler ou um Torquemada. Ele vige e serve a qualquer regime. E neste particular, em pleno estado de direito e cidadania, insepulto está o cadáver do menino Jonatha assassinado em circunstâncias misteriosas, a despertar gargalhos da “Comissão de Verdade”, por ser uma “bobagem” do seu desinteresse. Ah! E as cassações?! E os Atos Institucionais? E as inelegibilidades decretadas? E as prisões ocorridas? Dirão aqueles que insatisfeitos estão ainda com a não excedência dos excessos. Querem destigrar o tigre!? Querem fazê-lo hiena, quando o tigre é bravo e ninguém o deve cutucar com vara curta!? Por acaso existe regime autoritário norteado por boas maneiras e conversação suasória? Que governo se sustenta em meio à crise de anarquia com a repressão sendo motivo de chacota em afagos e carinhos? Como coibir o terror que se esboçava em assaltos a bancos, quarteis militares e sequestros de embaixadores? Só é lícito assassinar as forças da ordem? Ah, mas foram assassinados Wladimir Herzog e o operário José Fiel no Doi-Codi em São Paulo! E por caso isso restou impune com a demissão exemplar e imediata do General Edinardo D’Ávila Melo, responsabilizado pelo feito lamentável? Haveria tal resposta saneadora hoje, com a exigência de tantas firulas de procrastinação processual de ampla defesa e o escambau!? Porque o noticiário policial rotineiramente relata “suicídios” convenientes entre tantos insuspeitos do acaso, e o escambal processual nada resolve por usual. Teria sido um descaso confluente, ou um “suicídio” providencial, o acontecido agora com o menino Jonatha sobrando com o balaço vindo do nada, ou do além, algo desconhecido a não merecer estardalhaço, burla ou barulheira? Cabe-lhe uma zoeira menor que aquela dos ecos distantes, quarenta ou cinquenta anos passados em feridas doridas e sangrentas de uma hemorragia inestancável do regime revolucionário? “Estás maluco, Odilon, defender a ditadura militar!” Melhor interesse seria que a sinistra comissão ressuscitasse um corpo mutilado de melhor qualidade, morto na defesa de seu ideal equivocado. E não aparece um! Eita pobreza sergipana! Não tem unzinho sequer para ganhar estátua, honraria, santificação, ficando Fausto Cardoso sozinho, isolado e já esquecido na sua quimera exaltada de tomar o poder pela insurreição popular em rebeldia sem voto. Rebeldia sem voto que restou démodé, fora de moda, desatualizada, com o país amadurecido só após a saída saneadora dos militares. Só após! E hoje, quando os vencidos de então ocupam o poder, respeitando o mercado, os contratos, as convenções, tudo o que repeliam então, o que desejam quando já se demonstram afadigados e sem empolgação retórica? Querem reacender a insatisfação geral, despertando a população contra o seu Exército? Ora, o Exército de ontem é o de hoje e será o de amanhã! Seus feitos heroicos com Caxias, Osório e Mascarenhas de Morais não são apenas o melhor exemplo da estratégia vitoriosa das batalhas. Eles também estavam salvando a pátria ameaçada quando Mourão Filho saiu de Minas Gerais com a tropa recebendo o aplauso em toda vanguarda do caminho. O movimento de 1964 aconteceu com pleno apoio popular e sempre se caracterizou pelo respeito às leis, o Congresso permanecendo aberto, em pleno aplauso de aprovação. Não foi uma derrubada do poder como a de Fidel Castro em Cuba, nem Mao Tse Tung na China, muito menos a do próprio Getúlio Vargas em 1930 e 1937, com a entronização do poder de um líder personalista. Não! Generais presidentes foram eleitos pelo Congresso, em mandatos cumpridos, com começo, meio e fim, iniciando-se com Castelo Branco, homem digno e correto, que inclusive reformou as forças militares dando unidade e continuidade. Não. Eu não tenho nenhuma razão específica para defender o regime militar de 1964, mesmo porque eu também comungava da sua crítica nos idos de 1968. Mas, enquanto conhecedor daquela época, e em testemunho da verdade, reafirmo que a repressão só aconteceu porque fomos ineptos, incompetentes e irresponsáveis. Cutucamos o tigre com a vara curta! E, como se diz por comum; “Quando a cabeça não pensa, o corpo é que paga!”. Mesmo com a ditadura branda e a cana não tão dura! Mas, se alguém ainda chora o trauma e a dor, não tanto imerecida, quão bem mais divulgada e enaltecida, muito melhor seria aprazerar os céus por viver e contar a delicadeza da pancada sofrida, porque bem pior aconteceu com o menino Jonatha, em pleno estado de Direito. |