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sexta-feira, 11 de março de 2011

AUGUSTO NUNES - DIRETO AO PONTO



O entregador da GA é agora ASPONE do Jobim
A vaga dele na Papuda continua esperando a sentença do Museu de Juízes. (JN)
A memória com filtro facilita a ofensiva dos pecadores da pátria

Na província do Québec, as placas de todos os carros exibem a mesma inscrição em francês: Je me souviens. As três palavras reiteram que, embora incorporada ao Canadá de fala inglesa, aquela gente não esquece as origens, o passado, a História, o que houve de bom e de ruim, os crimes impunes e as afrontas sem resposta. Eu me lembro, avisam muitos milhares de veículos. Permanecem vivas todas as lembranças. A esta altura, parece secundário aos québécoises saberem se um dia serão independentes. O essencial é reafirmar a identidade, exigir respeito a direitos adquiridos ou por conquistar e  transferir para as gerações seguintes, intocada, a memória coletiva.
No Brasil, milhões de cabeças nem ficam sabendo do que outras tantas fingem ter esquecido e os sinuelos do rebanho preferem não lembrar. Parece um clarão no escuro de vidas passadas a roubalheira do mensalão — e no entanto o escândalo ultrajante ainda não foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Parece velha de muitos séculos a execução dos prefeitos Celso Daniel e Toninho do PT, cujos mandantes seguem homiziados no coração do poder. Parece coisa de antigamente até o que ainda está acontecendo, como as patifarias protagonizadas por José Sarney, as bandalheiras embutidas nas licitações da Petrobras ou as fantasias de Dilma Rousseff.
Os habitantes do Québec lembram porque conhecem a história, são altivos e têm caráter. No Brasil, há os que nada lembram porque nada sabem e os que, por terem alma subalterna e nenhum caráter, são portadores de memória com filtro. Esses conseguem esquecer o que fizeram os dirceus, paloccis, silvinhos, okamottos, guadagnins, professores luizinhos, joões paulos, delúbios, genoínos, gushikens, valérios, dudas, sanguessugas, aloprados, toda a turma que posava de vestal antes de escancarar a vocação para o bordel e todo o bando que caiu na vida ainda no berço.
Esses se comportam como se não existissem nem os 40 gatunos a serviço do Ali Babá federal, inspirador e principal beneficiário da Grande Mentira, nem os escândalos deste inverno. Aplaudido por devotos e avalizado por jornalistas inscritos na versão daslu do Bolsa Família, o presidente da República festeja a miragem do pré-sal ao lado de José Sarney e Dilma Rousseff. Incensado por áulicos incuráveis e espertalhões da base alugada, usa a televisão para tentar transformar 6 de setembro no Dia da Proclamação da Segunda Independência. E acusa de inimigos da pátria os que vigiam a Petrobras com merecidíssima desconfiança.
Lula acha que a Petrobras precisa de mais contratos? Precisa é de uma dedetetização exemplar. Enxerga em Sarney um homem incomum que honra o Senado? A resistência democrática continua vendo no arquiteto da censura ao Estadão alguém desqualificado para presidir uma reunião de condomínio. Promove Dilma a guardiã do tesouro no fundo do mar? Quem mente como se respirasse precisa é cuidar da própria cabeça. Nomeou-se o maior dos patriotas? O patriotismo, constatou faz tempo Samuel Johnson, é o último refúgio dos canalhas.
O que os profissionais da fraude querem é que todo mundo esqueça. Continuemos lembrando.
Comentário:
GD/BY
Foi mais que a instalação num gabinete do Ministério da Defesa, a que estão subordinadas as Forças Armadas, de um ex-guerrilheiro que se desmoralizou na presidência do PT. A promoção do ex-deputado José Genoíno a assessor direto do ministro Nelson Jobim foi sobretudo a reafirmação de que um dos mais vistosos réus do processo do mensalão goza da irrestrita confiança de um ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. O afrontoso recado aos militares e ao STF torna mais atual do que nunca um post de setembro de 2009 ─ A memória com filtro facilita a ofensiva dos pecadores da pátria ─ agora  aqui republicado.