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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Popular, sim. Grande, não!

Ricardo Noblat - O GLOBO


"Política a gente não pode fazer com ódio, com agressão, mas ninguém agüenta mentira!" (Lula, sobre a agressão a Serra)
Bolinha de papel, rolo de fita crepe, pano de bandeira, chumaço de algodão - nada pode ser usado de forma hostil para atingir alguém sob pena de tal ato configurar uma agressão. O que militantes do PT foram fazer em Campo Grande, no Rio, quando o candidato José Serra (PSDB) esteve por lá na tarde da última quarta-feira em busca de votos?
Não foram saudá-lo democraticamente. A tal ponto de civilidade não chegaremos tão cedo. Aos berros, munidos de bandeiras e dispostos a tudo, tentaram impedir que o candidato e seus correligionários exercessem o direito de ir e de vir, e também o de se manifestar, ambos assegurados pela Constituição. O PT tem uma longa e suja folha corrida (...) marcada por esse tipo de comportamento violento, autoritário e reprovável, que deita sólidas raízes em suas origens sindicais.
A força bruta foi empregada muitas vezes para garantir a ocupação ou o esvaziamento de fábricas. E também para se contrapor à força bruta aplicada pelo regime militar na época em que o PT era apenas uma generosa idéia. Para chegar ao poder, o PT sentiu-se obrigado a ficar parecido com os demais partidos para o bem ou para o mal. Mas parte de sua militância e dos seus líderes não abdicou até hoje de métodos e de práticas que forjaram sua personalidade. É uma pena. E um sinal de atraso.
Uma vez no poder, vale tudo para permanecer ali. Vale o presidente da República escolher sozinho a candidata do seu partido. Vale ignorar a Constituição e deflagrar a campanha antes da data prevista. Vale debochar da Justiça. Vale socorrer-se sem pudor da máquina pública para fins que contrariam as leis. Vale intimidar a Polícia Federal para que retarde investigações que possam lhe causar embaraços. E vale orientá-la para que vaze informações manipuladas capazes de provocar danos pesados a adversários.
No ocaso do primeiro turno, pouco antes de Dilma se enrolar na bandeira nacional e posar para a capa de uma revista como presidente eleita, a soberba de Lula extrapolou todos os limites. Ele foi a Juiz de Fora e advertiu os mineiros: seria melhor para eles elegerem um governador do mesmo grupo político de Dilma. Foi a Santa Catarina e pregou irado a pura e simples extirpação do DEM. Foi a São Paulo, investiu contra a imprensa e proclamou com os olhos injetados: "A opinião pública somos nós".
O mais sabujo dos auxiliares de Lula reconhece sob o anonimato que o ataque de fúria do seu chefe contribuiu para forçar a realização do segundo turno. Não haverá terceiro turno. Se desta vez as pesquisas estiverem menos erradas, Dilma deverá se eleger no próximo domingo e até com uma certa folga. Mas a eleição ainda não acabou meus senhores. A história está repleta de casos onde um passo em falso, um gesto impensado ou uma surpresa põe tudo a perder.
O que disse Lula a respeito do episódio do Rio protagonizado por Serra e por militantes do PT só confirma uma vez mais o quanto ele é menor - muito menor - do que a cadeira que ocupa há quase oito anos. Lula foi sarcástico quando deveria ter sido solidário com Serra, de resto seu amigo de longa data. Foi tolerante e cúmplice da desordem quando deveria tê-la condenado com veemência. Foi cabo eleitoral de Dilma quando deveria ter sido presidente da República no exercício pleno da função.
Sua popularidade poderá seguir batendo novos recordes -e daí? Não é disso que se trata. Popularidade é uma coisa passageira. Grandeza, não. É algo perene. Que sobrevive à morte de quem a ostentou. Tiririca é popular. Nem por isso deve passar à História como um político de grandeza. No seu tempo, Fernando Collor e José Sarney, aliados de Lula, desfrutaram de curtos períodos de intensa popularidade. Tancredo Neves foi grande, popular, não.
Grandeza tem a ver com caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade. Tudo o que falta a Lula desde que decidiu eleger Dilma a qualquer preço.

Ricardo Nobla 25 out 2010