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sábado, 7 de agosto de 2010

'DEBATE INGLÊS' É BOM PARA PLINIO E PIOR PARA DILMA

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - ESTADÃO

Resumo do debate da Band entre os presidenciáveis:

Nas palavras da experiente socióloga Fátima Pacheco Jordão, “parecia um debate inglês”. Não houve provocação, piada, baixaria nem puxada de tapete. Só discussão de “alto nível”. Comparado aos debates que a própria Band rememorou na abertura do programa, foi de dar sono. Começou com quase 6 pontos no Ibope, o que é muito para quem concorreu com uma semifinal de Taça Libertadores, e terminou com menos de 2 pontos.

Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) saiu com mais do que entrou. Já pode colocar no currículo que foi “trending topic” mundial do Twitter: seu nome foi uma das expressões mais citadas por usuários da rede social no mundo durante o período do debate.

Na forma, foi quem melhor se saiu, dirigindo-se diretamente ao telespectador com intimidade. Falou com segurança e surpreendeu pelo tom direto e por partir para o confronto. No conteúdo, é para quem concorda com as ideias do PSOL. Talvez comece a beliscar um pontinho ou outro na próxima rodada de pesquisas. A fórmula, todavia, pode cansar rápido.

Marina Silva (PV) perdeu uma oportunidade para ser notada. Plínio ocupou o lugar que poderia ter sido dela, se fosse uma franco-atiradora. Não é. Comportada, demorou para conseguir mostrar suas diferenças em relação a Dilma e Serra. Só embalou quando começou a falar de meio ambiente, mas o debate já estava acabando.

Foi segura, olhou direto para a câmera. Mas precisará ser mais agressiva, ou pelo menos incisiva, para ganhar espaço numa disputa tão polarizada. Isso parece contrariar sua natureza conciliadora. O poema que declamou no final ficou fora de contexto. Não emocionou.

José Serra (PSDB) mostrou que é mais experiente que Dilma. Conseguiu criticar o governo sem falar mal de Lula. Surpreendentemente, não abjurou o governo Fernando Henrique Cardoso, ao contrário. Usou uma linguagem mais direta e popular do que a principal adversária. Conseguiu dominar boa parte do temário do debate, pondo a saúde, seu ponto forte, em evidência (o que lhe valeu a pecha de “hipocondríaco”, dada por Plínio).

Mas Serra falou duas bobagens que poderão ser exploradas pelos adversários. Ao enumerar os problemas de portos e aeroportos, arrematou: “Eu não sei como se vai resolver isso”. Não é a melhor frase para um candidato.

Depois, ao falar de reforma agrária, qualificou propriedades de 80 hectares como “chácara de fim-de-semana”. São 800 mil metros quadrados, algo como 80 quarteirões, praticamente um bairro.

No final, Serra foi buscar uma memória do pai para emocionar-se. Embargou a voz e lacrimejou. A emoção pareceu genuína, mas a técnica para obtê-la pareceu estudada.

RESUMO – O debate da Band muda o rumo da campanha? Não. Ao menos por ora, Dilma segue sendo favorita. Os adversários podem comemorar porque os pontos fracos da candidata do governo ficaram evidenciados, e serão explorados. Para quem está em baixa nas pesquisas e com dificuldades para obter financiamento de campanha, é um alento. Mas ainda é insuficiente para virar o jogo. Aumenta, porém, a importância dos próximos debates.

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