Maria Lucia Victor Barbosa
04/05/2010
Durante muitos anos o PT construiu, retocou e inflou uma única figura com o propósito de se alçar junto com ela ao poder mais alto da República. Tratava-se do sindicalista Luiz Inácio da Silva que, posteriormente, adicionou ao seu nome o apelido Lula.
Nordestino que ser fez politicamente em São Paulo, homem de origem simples, parco em letras, mas dotado de exuberante verborragia e linguajar popularesco era a imagem ideal a se encaixar num partido que se dizia de esquerda. E, assim, nasceu o mito do representante dos pobres e oprimidos no papel de salvador da pátria, do "proletário" versus o patrão explorador, do paladino da luta de classes.
Depois de breve passagem pela elite da classe operária como metalúrgico Luiz Inácio passou viver de política sem grandes problemas de sobrevivência, pois até casa um companheiro lhe fornecia.
O PT logrou eleger seu "proletário" deputado federal, cujo desempenho foi medíocre. Mas a meta era mais ambiciosa e, finalmente, na quarta eleição presidencial, a cúpula sindicalista do PT foi ao paraíso. Para trás ficou a ideologia, a classe operária, a propalada ética. Se tinha vindo para mudar o PT fez igual ou pior do que os governos anteriores que duramente criticara. Tornou-se como os demais um partido não de esquerda ou de direita, mas do lado de cima. E o deslumbramento foi tanto que um a um de seus quadros, que poderia suceder ao salvador da pátria ao término de seus mandatos, despencou sob o peso de pesadas denúncias carregadas de escândalo de corrupção.
Sem sucessor a criatura dominou o criador. Já não era Luiz Inácio que dependia do PT para existir, mas, sim, os petistas é que estavam ligados de forma inexorável á única pessoa capaz de manter privilégios alcançados e intrinsecamente ligados ao poder. Desse modo, fez-se a obediência total ao "líder" com algumas cenas de servilismo total e abjeto.
Sem alternativas dentro do partido, Luiz Inácio impôs a candidatura de Dilma Rousseff, sucessora na Casa Civil do todo-poderoso José Dirceu que poderia ter sido o candidato ideal após o período Luiz Inácio. Contudo, como outros companheiros, José Dirceu, chamado por uma autoridade do Judiciário de "chefe da quadrilha do mensalão" e deputado cassado foi obrigado a se recolher em atividades de cunho particular sem, é claro, abrir mão do comando à sombra.
Mulher por mulher para ser presidente, o plano petista possivelmente havia previsto Marta Suplicy. Porém, Marta perdera duas vezes as eleições para prefeita de São Paulo e pior, nas duas vezes fora em vão apoiada por Luiz Inácio. Então, algum marqueteiro inspirado soprou nas orelhas presidenciais que sobrara Dilma Rousseff. Que fosse ela a escolhida para formar o par perfeito com o pai dadivoso e amantíssimo, uma espécie de santificado padim padi Ciço. Pai e mãe, que mais poderia agradar tanto ao povo criança do Brasil, que sente a necessidade de ser tutelado? E assim nasceu a imagem da mãe do PAC.
Se a estratégia de conquistar votos em si foi boa, a teoria na prática é outra. Vestir na mulher de fala dura e arrogante, modos viris, carranca denotando constante mau humor a fantasia do eterno feminino de doçura, tolerância e sedução, era tarefa que nem Duda Mendonça, que esculpiu o "Lulinha de paz e amor", seria capaz de fazer.
Além do mais, existe uma ambigüidade na figura materna, que foi bem analisada por Gérard Mendel na obra La Revolte contre le pére, une introduction à la sociopsychanalyse. Menciona o autor "a mãe arcaica, fonte de todos os dons, mas também de todos os males (a mãe cruel, Medéia devoradora dos filhos)... Essa mãe é, portanto, castradora".
Por suas atitudes e palavreado, pela falta de empatia, Dilma está mais para Medéia. Então, para ocultar a verdadeira personalidade da candidata presidencial os marqueteiros tentam fazer dela a sombra do pai patriarcal, Luiz Inácio, a mulher submissa ao seu senhor, aquela que vive em função dele, que o chama de chefe, que não diz duas palavras sem mencioná-lo, enfim, uma criatura despersonalizada.
Ao mesmo tempo, Rousseff seria uma cópia feminina do pai Lula, típico machão latino-americano que faz sucesso dizendo palavrão, contando piadas pesadas, gracejando o tempo todo como se o Brasil fosse um enorme bar onde ele se sentisse à vontade entre companheiros.
Nessa caricatura de si mesma Dilma Rousseff parece perdida, vacilante, confusa, passando a imagem de incompetência política. Nem a plástica nem os demais retoques físicos a que se submete poderiam mudar sua personalidade. Desse modo, a falsa imagem da candidata é um desastre.
Poderá Rousseff ganhar a eleição? Tudo é possível, sobretudo, quando se leva em conta que tem a seu favor a máquina estatal, eficiente em compra de votos através das bondades presidenciais. É um poderio ilegal, descomunal, antidemocrático que nenhum outro candidato dispõe. Sim, ela poderá ganhar, mas depois não se queixem os eleitores, porque onde Dilma passar nem grama vai crescer.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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