O processo que investiga o Mensalão do PT no Supremo Tribunal Federal (STF) tem 69 mil páginas. São 147 volumes e 173 apensos. Entre os documentos, há 50 depoimentos inéditos colhidos pela Justiça Federal em todo o País ao longo de 2008 e 2009, laudos sigilosos da Polícia Federal, relatórios reservados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), pareceres da Receita Federal e outras representações criminais que tramitam sob segredo de Justiça em vários Estados. O calhamaço faz a mais ampla e fiel radiografia do maior esquema de corrupção do País. Tudo isso, até hoje, estava sob sigilo de Justiça. Agora não mais. ISTOÉ teve acesso a todos esses documentos . O conteúdo empresta ainda mais gravidade ao escândalo. Além de lançar luz sobre novos personagens – até aqui eram 40 réus –, a investigação derruba a versão de que o dinheiro público estava ilesodo esquema de caixa 2 do PT. Chegou-se a levantar essa hipótese durante a CPI, mas não havia provas. Agora, os novos documentos e testemunhas asseguram a origem estatal dos recursos . Essas novas provas também jogam por terra a desculpa petista de que tudo foi feito para pagar despesas de campanha . Não. Diante de juízes e procuradores, testemunhas contaram e detalhes como atividades privadas de interesse partidário foram custeadas com as mesmas notas de dólares, euros e reais que circularam em cuecas e malas e ainda compravam apoios no
Congresso.
São esses documentos que o ministro Joaquim Barbosa, relator
do processo do Mensalão, usará para emitir seu julgamento. A leitura do
processo que corr no STF evidencia que o Mensalão do PT é um cadáver ainda
insepulto, capa de provocar intempéries na corrida eleitoral. A conexão Belo Horizonte Parte da nova documentação analisada pelo Supremo atinge
diretamente um importante dirigente petista que havia permanecido incólume
durante todo o escândalo do Mensalão e que só agora tem seu nome envolvido
na rede de corrupção. Trata-se do atual coordenador da campanha
presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e ex-prefeito de Belo
Horizonte
(2005-2008), Fernando Pimentel. No processo 2008.38.00.012837-8, que
investiga os crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas e tramita
sob sigilo na 4ª Vara da Justiça Federal em Minas Gerais e agora foi anexado
ao caso do STF, ele é apontado como um dos operadores da remessa ilegal de
recursos para o Exterior, depois usados para pagamentos de dívidas do PT com
o publicitário Duda Mendonça. Nesse processo, o procurador da República
Patrick Salgado Martins mostra as relações de Pimentel com o empresário
Glauco Diniz Duarte
e com o contador Alexandre Vianna de Aguilar. Ambos, segundo
o Ministério Público Federal, enviaram ilegalmente para os Estados Unidos
cerca de US$ 80 milhões |
São esses documentos que o ministro Joaquim Barbosa, relato
r do processo do Mensalão, usará para emitir seu julgamento.
A leitura do processo que corre no STF evidencia que o Mensalão
do PT é um cadáver ainda insepulto, capaz de provocar
intempéries na corrida eleitoral. uarte e com o contador Alexandre Vianna de Aguilar. Ambos, segundo
o Ministério Público Federal, enviaram ilegalmente para os Estados
Unidos cerca de US$ 80
milhões. Parte desse dinheiro, como afirma o procurador, teria sido
destinada às contas de Duda Mendonça, um dos personagens centrais
do escândalo do Mensalão. Em 2005, depois que o caso se tornou
público, o publicitário admitiu que mantinha uma conta com R$ 10 milhões
não declarados nos EUA, em nome da Dusseldorf Company. Foi dinheiro
que o publicitário reconheceu ter recebido como pagamento de
campanhas feitas para o PT. A origem desses recursos, de acordo com a denúncia do Ministério Público
mineiro, está em um contrato superfaturado da Prefeitura de Belo Horizonte
, feito durante a gestão de Pimentel, com a Câmara dos Dirigentes Lojistas
(CDL) para a implantação do Projeto Olho Vivo – instalação de câmaras nas
ruas da capital mineira. Diniz era diretor da CDL e teria abastecido as
contas de Duda. “O contrato do qual surgiram irregularidades diversas
como superfaturamento e alienação de câmaras por empresa de fachada
presta-se a demonstrar a ligação de Glauco Diniz com o prefeito de Belo
Horizonte, cuja campanha foi produzida pelo publicitário Duda Mendonça,
havendo fundada suspeita de que o aludido convênio tenha sido ardiloso
estratagema para desvio de dinheiro público com a finalidade de saldar
as dívidas de campanha do partido em território alienígena”, escreveu o
procurador Martins em sua denúncia. O procurador rastreou a rota do dinheiro dos contratos e descobriu que
os recursos saíam do Brasil para os EUA, onde eram depositados nas
contas da empresa Gedex International, pertencente a Diniz. Em seguida,
eram repassados para a conta Dusseldorf, de Duda Mendonça. A Gedex
recebeu no Exterior mais de US$ 30 milhões. Quanto desse total chegou
à conta de Duda é uma pergunta ainda sem resposta na investigação.
“As conexões mostram que eles intermediavam operações diversas
com o objetivo de dissimular a natureza, origem, localização, movimentação
e propriedade das quantias transacionadas, havendo ainda contra o
acusado Glauco Diniz a suspeita de ter elaborado esquema de desvio
de dinheiro público com a finalidade de saldar dívidas de campanha
do PT”, conclui o procurador. Com essa nova documentação, Barbosa,
segundo um ministro do STJ ouvido por ISTOÉ, poderá ampliar o número
de réus no processo, inclusive arrolando Pimentel entre eles.
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