Maria Lucia Victor Barbosa
23/02/2019
Apesar de se dizer que o Programa de Governo apresentado pelo PT para a candidata Dilma Rousseff nada tem de radical, que não passa de um amontoado de inocentes diretrizes, bem que poderia ter recebido como título: “Rousseff, o Socialismo do Século 19”.
Um dos influentes artífices do Programa foi o chanceler de fato Marco Aurélio Garcia, mentor de nossa desastrada política externa que não fracassa apenas em suas tentativas de obter cargos em organismos internacionais, mas que faz feio quando apóia países que afrontam direitos humanos; se intromete onde não deve como no caso de Honduras que resultou em tremendo fiasco para o Brasil; defende eleições fraudadas de tiranetes tipo Chávez ou déspotas comoMahmoud Ahmadinejad o qual, inclusive, recebe total aceitação brasileira no tocante aos seus intentos de explodir o mundo, a começar por Israel.
Imagine-se, então, se Rousseff se sair vitoriosa o que fará Garcia para dar seguimento à obsessão do PT de mudar a geopolítica do planeta. Para tanto, segue-se eliminando a companhia dos melhores e se juntando aos piores. Exemplo do que se fala é o nascimento, na cúpula da Calc (Cúpula da Unidade da América Latina de do Caribe) que está sendo realizada em Cancún, no México, da OEA do B, que exclui Estados Unidos e Canadá. A idéia, não há dúvida, é mais umaconsequência da antiga dor de cotovelo latino-americana em relação aos vizinhos desenvolvidos, especialmente, aos Estados Unidos.
Sob as ordens de Lula da Silva o Programa do Governo Rousseffsofreu algumas modificações de cunho semântico para não ficar muito assustador para as “zelites”. Porém, mesmo tendo se alterado algumas palavras manteve conteúdo totalitário. Além de estatizante, o que foi corroborado pela candidata em discurso, as diretrizes aprovadas contemplam, entre outras coisas: “compromisso com a jornada de 40 horas”; “combate ao monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento e reativação do Conselho Nacional de Comunicação Social”; “atualização dos índices de produtividade das propriedades rurais passíveis de desapropriação, ampliação de restrição de compras de terras por estrangeiros, revogação da MP anti-invasãoeditada por FHC”; “tributação sobre grandes fortunas”; “apoio incondicional ao Programa de Direitos Humanos”.
Traduzindo: duro golpe na classe empresarial, sobretudo, nos pequenos e médios empresários; censura férrea dos meios de comunicação, o que deve atingir a Internet; golpe mortal no agronegócio, o grande sustentáculo de nossa balança comercial, com previsível expropriação de terras para serem doadas aos sem-terra; punição para a riqueza dos “outros”, é claro.
Quanto ao Plano de Direitos Humanos, coroa e enfeixa o Programa Rousseff. Naquele calhamaço não se poupou afrontas às instituições que antes eram os pilares mais importantes da sociedade: Igreja, Forças Armadas, Mídia, Justiça, além do bombardeio ao direito de propriedade.
Impressiona que estas instituições têm aceitado ao longo de quase oito anos, com complacência bovina, tudo o que Lula disse e fez junto com seu governo. A propaganda, o culto da personalidade e, sobretudo, nossa cultura permissiva fez pobres e ricos acharem natural impostos escorchantes, corrupção deslavada, Planos fracassados, falta de infra-estrutura, Saúde em condições de descalabro, Educação no fundo do poço em termos de qualidade, deturpação de dados econômicos.
Impressionante mais ainda no momento a falta de reação das instituições que serão frontalmente atingidas se Rousseff, conseguir chegar à presidência, deixando-se, então, levar por seus influentes mestres, entre eles, Marco Aurélio Garcia ou apoiadores externos entusiastas como Hugo Chávez que já se colocou à disposição da candidata do companheiro Lula.
Esperto, Lula da Silva minimiza o Programa de Governo da afilhada, enquanto análises tranquilizantes ecoam pela imprensa referindo-se ao pragmatismo petista que tomou gosto pelo capitalismo e não quer ver escoar pelo ralo a estabilidade econômica adquirida no governo de FHC. Também o fisiologismo do PMDB, que fará o vice na chapa Rousseff, acena com alguma possível brecada no radicalismo petista, mas apenas naquilo que possa atrapalhar interesses peemedebistas.
Entretanto, alguns sinais inquietantes, como a volta da inflação e a deterioração das contas públicas deveriam deixar as instituições pelo menos mais atentas. De modo algum parece que isso está acontecendo. Ao radicalizar e afrontar à vontade o PT parece sinalizar a certeza de sua continuidade. E é como se dissesse: “se tudo correu facilmente durante quase oito anos, sem oposições partidárias ou institucionais, agora faremos o que quisermos e seremos de novo aceitos, como se dizia antigamente, “na lei ou na marra”,
De tudo isso se conclui que no momento somos como os alegres passageiros do Titanic um pouco antes do navio bater no iceberg. Haverá tempo e meios de escapar do naufrágio? As urnas dirão.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.