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quarta-feira, 22 de julho de 2009
O SR. NELSON MARQUEZELLI (PTB-SP. Pronuncia o seguinte discurso.) -
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, no último dia 10 de julho, chegou-me, com grande consternação, a notícia do falecimento do general-de-divisão Agnaldo Del Nero Augusto, grande amigo, brilhante oficial do Exército Brasileiro e, mais do que tudo, um patriota convicto, que, cumprindo à risca o juramento feito e renovado quando declarado oficial do Exército, dedicou-se inteiramente ao serviço da Pátria, cuja honra, integridade e instituições comprometeu-se a defender.
Conheci-o em meus tempos de infância, na querida Pirassununga, terra natal de nós dois. Foi ali, na escola primária, que me inteirei das primeiras letras, através da mão, do carinho e da cartilha de D. Yolanda, mãe de Agnaldo, o rapazote sério e empertigado que já incutia, a nós, os meninos pouco mais novos que ele, uma espontânea admiração e um respeito precoce. Agnaldo Del Nero, durante muito tempo, foi um exemplo para a juventude de Pirassununga e do nosso Estado.
Seus sonhos e seus anseios, a própria formação de sua personalidade, os planos "para quando fosse grande" foram burilados sob a forte influência da presença, em Pirassununga, do antigo 17º Regimento de Cavalaria. Ali viu despertar sua vocação de soldado. Dali partiu em busca do seu ideal profissional, concretizado nos bancos da Escola Preparatória de Porto Alegre, seu primeiro quartel, onde vestiu, cheio de orgulho, a primeira farda, e onde prestou, inundado de vibração e de entusiasmo juvenil, a primeira continência.
Foi declarado aspirante-a-oficial da Arma de Cavalaria em dezembro de 1956. Impecavelmente fardado, calçando botas e esporas, retornou, como sempre sonhara, à sua (e nossa) Pirassununga, integrando-se, então de forma concreta, ao quartel com que povoara seus sonhos de criança.
Por estimá-lo e por admirá-lo, acompanhei, ainda que de longe, a sua brilhante carreira: no posto de capitão, quando a tecnologia era incipiente, Del Nero despontou como pioneiro do conhecimento das técnicas e táticas de emprego dos meios de combate que, à época, eram chamados de "artefatos" blindados. A Cavalaria, até então predominantemente hipomóvel, ganhava nova roupagem e novas características, em uma custosa evolução, que foi, até, retardada pelo preconceito e pela romântica resistência de alguns.
A trajetória militar de Agnaldo Del Nero Augusto se direcionou por 3 vertentes distintas e igualmente expressivas.
A primeira e fundamental vertente de seu currículo profissional foi a do combatente, sempre às voltas com a evolução dos meios e técnicas de guerra e com a modernização de sua Arma e de seu Exército. Como instrutor da Escola de Comando e Estado Maior do Exército e redator da revista A Defesa Nacional, escreveu e publicou, entre outros, vários artigos sobre a evolução das técnicas e táticas dos blindados. No campo operacional, desempenhou todas as funções de oficial subalterno, capitão, oficial superior e oficial general, merecendo destaque, entre elas:
A conclusão dos cursos de Comunicações, de Aperfeiçoamento de Oficias e de Comando e Estado Maior;
O comando, no biênio 1982-83, do seu velho e querido regimento de Pirassununga, já então transformado de 17º Regimento de Cavalaria (hipomóvel) em 2º Regimento de Carros de Combate;
O comando da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, no Rio de Janeiro, a mais importante de todas as brigadas de combate, de emprego decisivo na condução da manobra terrestre;
O Comando da 5ª Região Militar e 5ª Divisão de Exército, em Curitiba, Paraná.
Como segunda vertente, valorizada pela sua condição de bacharel em Ciências Econômicas, Del Nero atuou de forma decisiva nas áreas de logística terrestre, de economia e de administração financeira do Exército. Como oficial-general, ocupou os seguintes cargos:
Diretor de Transportes;
Diretor de Administração Financeira;
Subsecretário de Economia e Finanças do Exército.
A terceira grande vertente de sua proveitosa careira foi ligada ao seu desempenho como oficial de informações, área em que despontou, mais uma vez, como pioneiro na implantação do conceito moderno da "inteligência militar". Nessa área, atuou com desenvoltura, entre outras, nas seguintes funções:
Oficial da Agência Central do Serviço Nacional de Informações - SNI;
Chefe da Seção de Informações do Centro de Informações do Exército - CIEX;
Diretor da Escola Nacional de Informações - ESNI, onde, no pouco tempo que permaneceu, criou a Inteligência em Revista, com o objetivo de levar ao público, de forma ostensiva e transparente, a discussão dos diversos aspectos dessa atividade, que, embora polêmica e controvertida, é essencial, ou mesmo vital, para a Nação, pensamento unânime da maioria dos países democráticos.
Agnaldo Del Nero foi, indiscutivelmente, e mais do que tudo, um democrata convicto e empedernido. No ocaso de sua carreira militar, despediu-se do serviço ativo do Exército, mas permaneceu a postos em sua trincheira democrática. Dotado de uma inteligência privilegiada, valorizada pelo conhecimento que adquiriu ao longo de seu trabalho como oficial de inteligência, atividade de que participou como protagonista, e não como coadjuvante, nunca aceitou as opiniões e os conceitos emitidos de forma tendenciosa ou com outros fins que não o registro da verdade histórica.
Embalado pelo brio, pelo denodo e pela honestidade que pautaram sua vida militar, e discordando frontalmente, como grande parcela dos cidadãos de nosso País, das distorções incutidas por certos setores na história pós-movimento de 1964, Del Nero produziu uma peça de relevante valor histórico, que um dia, segundo a sua convicção e a dos verdadeiros democratas, haverá de ser reconhecida como importante e incontestável fonte de conhecimento e de informação às gerações futuras: o livro A Grande Mentira. A obra se baseia em documentos e informações fidedignas a que o general teve acesso, e não em convicções políticas ou em motivações ou conceitos tendenciosos.
Por tais razões, Sr. Presidente, Srs. Deputados, sem qualquer conotação de cunho político ou posicionamento ideológico, sem nenhum preconceito, sem outra motivação que não a de exaltar a coragem e a honestidade de um autêntico patriota, considero de meu dever deixar consignadas nesta Casa da Democracia as presentes referências, justas e merecidas, a um verdadeiro democrata. A um homem que dedicou toda a sua vida, a sua inteligência, a sua energia, o seu discernimento e o que de mais precioso teve: sua honra e sua honestidade, exclusivamente ao serviço da Pátria, sem restrição de qualquer ordem.
Assim, faço questão de registrar, não apenas em meu nome, mas no de todos os integrantes desta Casa, um profundo sentimento de pesar pelo repentino falecimento do general Agnaldo Del Nero Augusto, com votos de que a família encontre forças para superar este momento de dor e de angústia.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Conheci-o em meus tempos de infância, na querida Pirassununga, terra natal de nós dois. Foi ali, na escola primária, que me inteirei das primeiras letras, através da mão, do carinho e da cartilha de D. Yolanda, mãe de Agnaldo, o rapazote sério e empertigado que já incutia, a nós, os meninos pouco mais novos que ele, uma espontânea admiração e um respeito precoce. Agnaldo Del Nero, durante muito tempo, foi um exemplo para a juventude de Pirassununga e do nosso Estado.
Seus sonhos e seus anseios, a própria formação de sua personalidade, os planos "para quando fosse grande" foram burilados sob a forte influência da presença, em Pirassununga, do antigo 17º Regimento de Cavalaria. Ali viu despertar sua vocação de soldado. Dali partiu em busca do seu ideal profissional, concretizado nos bancos da Escola Preparatória de Porto Alegre, seu primeiro quartel, onde vestiu, cheio de orgulho, a primeira farda, e onde prestou, inundado de vibração e de entusiasmo juvenil, a primeira continência.
Foi declarado aspirante-a-oficial da Arma de Cavalaria em dezembro de 1956. Impecavelmente fardado, calçando botas e esporas, retornou, como sempre sonhara, à sua (e nossa) Pirassununga, integrando-se, então de forma concreta, ao quartel com que povoara seus sonhos de criança.
Por estimá-lo e por admirá-lo, acompanhei, ainda que de longe, a sua brilhante carreira: no posto de capitão, quando a tecnologia era incipiente, Del Nero despontou como pioneiro do conhecimento das técnicas e táticas de emprego dos meios de combate que, à época, eram chamados de "artefatos" blindados. A Cavalaria, até então predominantemente hipomóvel, ganhava nova roupagem e novas características, em uma custosa evolução, que foi, até, retardada pelo preconceito e pela romântica resistência de alguns.
A trajetória militar de Agnaldo Del Nero Augusto se direcionou por 3 vertentes distintas e igualmente expressivas.
A primeira e fundamental vertente de seu currículo profissional foi a do combatente, sempre às voltas com a evolução dos meios e técnicas de guerra e com a modernização de sua Arma e de seu Exército. Como instrutor da Escola de Comando e Estado Maior do Exército e redator da revista A Defesa Nacional, escreveu e publicou, entre outros, vários artigos sobre a evolução das técnicas e táticas dos blindados. No campo operacional, desempenhou todas as funções de oficial subalterno, capitão, oficial superior e oficial general, merecendo destaque, entre elas:
A conclusão dos cursos de Comunicações, de Aperfeiçoamento de Oficias e de Comando e Estado Maior;
O comando, no biênio 1982-83, do seu velho e querido regimento de Pirassununga, já então transformado de 17º Regimento de Cavalaria (hipomóvel) em 2º Regimento de Carros de Combate;
O comando da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, no Rio de Janeiro, a mais importante de todas as brigadas de combate, de emprego decisivo na condução da manobra terrestre;
O Comando da 5ª Região Militar e 5ª Divisão de Exército, em Curitiba, Paraná.
Como segunda vertente, valorizada pela sua condição de bacharel em Ciências Econômicas, Del Nero atuou de forma decisiva nas áreas de logística terrestre, de economia e de administração financeira do Exército. Como oficial-general, ocupou os seguintes cargos:
Diretor de Transportes;
Diretor de Administração Financeira;
Subsecretário de Economia e Finanças do Exército.
A terceira grande vertente de sua proveitosa careira foi ligada ao seu desempenho como oficial de informações, área em que despontou, mais uma vez, como pioneiro na implantação do conceito moderno da "inteligência militar". Nessa área, atuou com desenvoltura, entre outras, nas seguintes funções:
Oficial da Agência Central do Serviço Nacional de Informações - SNI;
Chefe da Seção de Informações do Centro de Informações do Exército - CIEX;
Diretor da Escola Nacional de Informações - ESNI, onde, no pouco tempo que permaneceu, criou a Inteligência em Revista, com o objetivo de levar ao público, de forma ostensiva e transparente, a discussão dos diversos aspectos dessa atividade, que, embora polêmica e controvertida, é essencial, ou mesmo vital, para a Nação, pensamento unânime da maioria dos países democráticos.
Agnaldo Del Nero foi, indiscutivelmente, e mais do que tudo, um democrata convicto e empedernido. No ocaso de sua carreira militar, despediu-se do serviço ativo do Exército, mas permaneceu a postos em sua trincheira democrática. Dotado de uma inteligência privilegiada, valorizada pelo conhecimento que adquiriu ao longo de seu trabalho como oficial de inteligência, atividade de que participou como protagonista, e não como coadjuvante, nunca aceitou as opiniões e os conceitos emitidos de forma tendenciosa ou com outros fins que não o registro da verdade histórica.
Embalado pelo brio, pelo denodo e pela honestidade que pautaram sua vida militar, e discordando frontalmente, como grande parcela dos cidadãos de nosso País, das distorções incutidas por certos setores na história pós-movimento de 1964, Del Nero produziu uma peça de relevante valor histórico, que um dia, segundo a sua convicção e a dos verdadeiros democratas, haverá de ser reconhecida como importante e incontestável fonte de conhecimento e de informação às gerações futuras: o livro A Grande Mentira. A obra se baseia em documentos e informações fidedignas a que o general teve acesso, e não em convicções políticas ou em motivações ou conceitos tendenciosos.
Por tais razões, Sr. Presidente, Srs. Deputados, sem qualquer conotação de cunho político ou posicionamento ideológico, sem nenhum preconceito, sem outra motivação que não a de exaltar a coragem e a honestidade de um autêntico patriota, considero de meu dever deixar consignadas nesta Casa da Democracia as presentes referências, justas e merecidas, a um verdadeiro democrata. A um homem que dedicou toda a sua vida, a sua inteligência, a sua energia, o seu discernimento e o que de mais precioso teve: sua honra e sua honestidade, exclusivamente ao serviço da Pátria, sem restrição de qualquer ordem.
Assim, faço questão de registrar, não apenas em meu nome, mas no de todos os integrantes desta Casa, um profundo sentimento de pesar pelo repentino falecimento do general Agnaldo Del Nero Augusto, com votos de que a família encontre forças para superar este momento de dor e de angústia.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Fonte Camara dos Deputados