Páginas

terça-feira, 17 de março de 2009

Marcha da Família com Deus, pela Liberdade. Povo vai às ruas para pedir a intervenção das Forças Armadas em defesa da Constituição e dos princípios democráticos.

Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 20 de março de 1964.

Erros da grafia original foram corrigidos

A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os recantos da pátria para defender a Constituição e os princípios democráticos, dentro do mesmo espírito que ditou a Revolução de 32, originou ontem o maior movimento cívico já observado em nosso Estado: a "Marcha da Família com Deus, pela Liberdade".
Com bandas de musica, bandeiras de todos os Estados, centenas de faixas e cartazes, numa cidade com ar festivo de feriado, a "
Marcha" começou na praça da Republica e terminou na praça da Sé, que viveu um dos seus maiores dias. Meio milhão de homens, mulheres e jovens - sem preconceitos de cor, credo religioso ou posição social - foram mobilizados pelo acontecimento. Com "vivas" à democracia e à Constituição, mas vaiando os que consideram "traidores da pátria", concentraram-se defronte da catedral e nas ruas próximas.
Ali, oraram pelos destinos do país. E, através de diversas mensagens, dirigiram palavras de fé no
Deus de todas as religiões e de confiança nos homens de boa-vontade. Mas, tambem de disposição para lutar, em todas as frentes, pelos principios que já exigiram o sangue dos paulistas para se firmarem.

São Paulo pára em defesa do regime e da Constituição


Ontem, São Paulo parou. E foi à praça publica - porque "a praça é do povo" - numa mobilização que envolveu meio milhão de homens, mulheres e jovens, também de outros Estados: a "
Marcha da Família com Deus, pela Liberdade".
Durante hora e meia, com a cidade adquirindo aspectos de feriado, um caudal humano correu, ininterruptamente, da praça da Republica para a praça da Sé, passando pela rua Barão de Itapetininga, praça Ramos de Azevedo, Viaduto do Chá, praça do Patriarca e rua Direita, até se represar ante as escadarias da catedral metropolitana. Foi a maior manifestação popular já vista em nosso Estado.
O repudio a qualquer tentativa de ultraje à Constituição Brasileira e a defesa dos princípios, garantias e prerrogativas democráticas constituíram a tonica de todos os discursos e mensagens dirigidos das escadarias da catedral aos brasileiros, no final da passeata.

"Fidel, Padroeiro de Brizola"


Nas escadarias da catedral, sucederam-se os oradores. Às 18h50, a massa humana chegara à praça da Sé. E encontrou-a ocupada por multidão que acenava com lenços e bandeirolas. O senador padre Calazans ocupara o microfone antes da chegada dos manifestantes e voltou a discursar, após o primeiro orador - sr. Amaro Cesar - ter discorrido sobre os objetivos da "
Marcha". Disse o reverendo: "Hoje é o dia de São José, padroeiro da família, o nosso padroeiro. Fidel Castro é o padroeiro de Brizola. É o padroeiro de Jango. É o padroeiro dos comunistas. Nós somos o povo. Não somos do comício da Guanabara, estipendiado pela corrupção. Aqui estão mais de 500 mil pessoas para dizer ao presidente da Republica que o Brasil quer a democracia, e não o tiranismo vermelho. Vivemos a hora altamente ecumênica da Constituição. E aqui está a resposta ao plebiscito da Guanabara: Não! Não! Não!".
As palavras finais do senador foram acompanhadas em uníssono pelos presentes. Depois, o pe. Calazans lembrou que "aqui estamos sem tanques de guerra, sem metralhadoras. Estamos com nossa alma e com nossa arma, a Constituição".

Marcha, veterano e mensagem


À chegada de d. Leonor Mendes de Barros, às 17h20, que provocou vivas e palmas, a banda da Força Publica tocou o Hino Nacional, que foi cantado por todos os manifestantes enquanto acenavam com lenços brancos. Em seguida, discursou o sr. Geraldo Goulart, veterano de 32, dizendo da semelhança entre a situação atual e aquela que originou a Revolução Constitucionalista. Depois, uma mãe paulista leu a mensagem da mulher bandeirante ao povo brasileiro.

Oração pelo Brasil


Coube à profa. Carolina Ribeiro, ex-secretaria da Educação, orar ao microfone por São Paulo e pelo Brasil. Todos a acompanharam no Pai Nosso e ouviram-na dizer: "Temos que pedir a
Deus, neste momento em que nossos corações fervem de indignação, que não caiamos na tentação da revolta, porque só a Deus compete levar-nos pelo caminho certo".
Ao Pai Nosso, seguiu-se a Ave Maria, também rezada conjuntamente, com o padre Calazans ao microfone: "Repudio às ofensas lançadas ao Rosário no comício da Guanabara". Era a hora do "Angelus". Todos deram um viva à "Rainha do Brasil".

"Liberdade é como saude"


"Esta manifestação popular é uma prova de que São Paulo e o Brasil querem ver sua bandeira eternamente livre" - ressaltou o dep. Ciro Albuquerque, presidente da Assembléia Legislativa paulista, que prosseguiu. "A liberdade é como a saúde: somente lhe damos valor depois que a perdemos. Queremos paz, tranqüilidade. E, sobretudo, exigimos respeito à Constituição e às instituições democráticas". Em seguida, conclamou todos os membros das casas legislativas brasileiras a "estudar as reformas, que o povo deseja e merece, mas que devem ser feitas dentro do respeito à soberania do Congresso Nacional". Finalmente, leu mensagem dos prefeitos paulistas, dando conta da assinatura de um manifesto, em que conclamam os brasileiros a lutar por aqueles princípios.

Mensagem de alerta


Seguiram-no na tribuna o deputado Arnaldo Cerdeira e o sr. Amaro Cesar; aquele ressaltando que "não admitiremos a transgressão à lei, a agressão à Constituição"; este, lendo outra mensagem de alerta, dirigida pelos integrantes da "
Marcha" ao povo brasileiro.
O representante da delegação da Guanabara, dep. Everaldo Magalhães, tocou no nome do sr. Leonel Brizola e não pôde continuar o discurso por alguns minutos. Todos os manifestantes gritavam: "1, 2, 3, Brizola no xadrez. Se tiver lugar, vai o Jango também". Vaias estrondaram por toda a praça e, logo depois, o parlamentar prosseguia: "Vamos dar nossa resposta democrática ao plebiscito da Guanabara". E todos levantaram os braços, acenando novamente com lenços brancos, "pela Constituição". E o deputado retrucou: "Obrigado paulistas. Obrigado brasileiros. Esta é a mensagem que levo para o Rio". Nesse momento, a banda da Força Publica executou o Hino Nacional, cantado pelos presentes, ainda com os lenços acenando.

Armas: contra ou a favor?


O orador seguinte foi o dep. Plínio Salgado, que dirigiu pergunta às Forças Armadas: "Bravos soldados, marinheiros e aviadores de nossa pátria, sereis capazes de erguer vossas armas contra aqueles que querem se levantar, aqueles que se levantam contra a desordem, a subversão, a anarquia, o comunismo? Contra aqueles que querem destruir os lares e a soberania da pátria? Esta manifestação não vos comove? Será possível que permitireis, ainda, que o Brasil continue atado aos títeres de Moscou?"

"Basta! Basta! Basta!"


O deputado Cunha Bueno, em seguida, agradeceu, em nome dos paulistas, o comparecimento das delegações do interior e de outros Estados. E acentuou: "Os brasileiros aqui estão reunidos para dizer ao presidente da Republica: Basta! Basta! Basta (nestas palavras foi seguido pelos manifestantes). O que queremos é paz para continuar nosso trabalho". Deu "vivas" ao Brasil e à democracia.

Espírito de 32


Por sua vez, o dep. Herbert Levy acentuou: "Vossa presença neste momento histórico significa que o povo brasileiro não quer ditadura, não quer comunismo. Quer paz, ordem e progresso. O povo está na rua revivendo o espírito de 32 em defesa da Constituição que fizemos com o nosso sangue. E, se preciso, iremos todos, velhos, moços e até crianças, para as trincheiras de 32. Esta é a advertência para o presidente da Republica e seu cunhado, para que não brinquem de comunismo no Brasil". Foi interrompido varias vezes pelos populares, que gritavam: "1, 2, 3, Brizola no xadrez" e "Verde-amarelo, sem foice e martelo". E a banda da Guarda Civil atacou a
marcha "Paris Belfort", o hino da Revolução de 32.

"Escravatura vermelha"


A deputada Conceição da Costa Neves também dirigiu saudação aos brasileiros, dizendo: "Aqui, mercê de
Deus, se encontra o Brasil unido contra a escravatura vermelha. De São Paulo partirá a bandeira que percorrerá todo o país, para dizer a todos os partidos que a hora é de união, para dizer basta ao sr. presidente da Republica".
Depois, houve outros oradores - estudantes e representantes de outros Estados -, todos ressaltando a necessidade de união pela preservação do regime, e o deputado Camilo Aschar afirmou que "a Assembléia Legislativa de São Paulo estará alerta para o que der e vier". Discursou também o prefeito de Campinas, sr. Rui Novais, e um representante da delegação paranaense lembrou que "32 e 32 somam 64".

"Senão, não!"


O ultimo orador a ocupar a tribuna foi o sr. Auro Soares de Moura Andrade, presidente do Congresso Nacional. E disse: "Sentimos que hoje é um dia de importância histórica para o Brasil. O povo veio à praça publica para demonstrar sua confiança na democracia. Veio para afirmar perante a Nação que os democratas não permitirão que os comunistas sejam os donos da Pátria. Democratas do Brasil, confiem, não desconfiem das gloriosas Forças Armadas de nossa pátria. Dentro de cada farda, não está somente um corpo, mas também uma consciência e um juramento feito. Que sejam feitas reformas, mas pela liberdade. Senão, não. Pela Constituição. Senão, não. Pela consciência cristã do nosso povo. Senão, não". E todos os presentes o acompanharam no "senão, não". Logo em seguida, a banda tocou a Canção do Soldado, cantada pelos manifestantes, que, depois, repetiram os "slogans" contra o sr. Leonel Brizola e o comunismo e se foram da praça. Eram 18h45 e, muitos, entraram na catedral para assistir à missa vespertina.

Agua na passeata


Foi o próprio deputado Murilo de Sousa Reis quem efetuou a interdição de um prédio comercial, na rua Barão de Itapetininga, e, acompanhado de policiais, revistou todos os conjuntos. Isso porque de um deles haviam atirado um balde de água nos transeuntes componentes da passeata. Numa das janelas, aquele deputado constatou que o seu batente estava molhado e efetuou a detenção do responsável pelo escritório e de um outro elemento que o acompanhava. Ambos foram conduzidos ao DOPS e só à noite foram dispensados.

Ovos e prisões


Outro fato, mais tarde esclarecido, foi a detenção que a Policia que vistoriava a passeata efetuou na praça da Sé, de dois jovens que portavam dentro do carro grande quantidade de ovos de galinha. Apontados por transeuntes, que disseram que os rapazes iam jogar os ovos na multidão, os dois foram detidos e encaminhados ao DOPS. Só então foi constatado que as caixas se destinavam a um supermercado. Os dois foram dispensados.

 Creditos: www.averdadesufocada.com

A verdade Sufocada o livro que a esquerda não quer que o povo leia