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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Mais um militante da luta armada no poder




“Ministro receberá indenização por exílio durante o regime militar 


  Valor é de 270 salários mínimos; ministro foi preso e exilado nos anos 70

 

SALVADOR. O novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, recebeu ontem uma boa notícia: a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em visita à capital baiana, anunciou a concessão ao ministro de uma indenização de 270 salários mínimos, no valor aproximado de R$112 mil. Para obter a reparação, Juca relatou que foi processado pelo regime militar, perseguido e condenado diversas vezes, e que a vida no exílio teria provocado grande sofrimento e desequilíbrio em sua família, levando sua mulher, na época, a cometer o suicídio (...). "

(Trecho de matéria publicada no jornal O Globo)

Observação do site:

Juca Oliveira - nome: João Luiz Silva Ferreira  foi envolvido pela subversão muito cedo. Seu pai militou na juventude no partido comunista. O ambiente familiar facilitou, a Rádio de Havana era ouvida diariamente e militantes do PCB circulavam pela sua casa com freqüência. Em 1966 já estava pronto para militar no movimento estudantil. Seu recrutamento foi feito por José Carlos Prata.

Em 1967 filiou-se ao Partido Comunista. Logo foi eleito secretário político  da  Direção Secundarista.  Foi  militante da dissidência do PCB, do PC do B, do PCBR e do MR-8. 

  Ingressou na Escola Técnica Federal da Bahia em 1967 com o firme propósito de fazer militância política ( recrutamento de novos militantes para a luta armada), já que ali se formava boa parte do operariado baiano para o Pólo Petroquímico.

 Em 1968, comandou uma greve na escola, na primeira grande manifestação estudantil baiana.

 Nessa época, Juca Ferreira começou a defender a luta armada e decidiu romper com o Partidão. Ao lado das atividades no movimento estudantil, ele começou a participar de treinamentos para a luta armada. Usava a fazenda do pai, em Alagoinhas, para treinar tiro. Seus irmãos Airton e Júlio também participavam da luta armada.

Logo teve que ingressar na clandestinidade. Acabou indo para o Rio de Janeiro , onde passou a ter contatos mais atuantes na luta armada e  aderiu à Dissidência do Rio de Janeiro (DI/GB), que depois iria se transformar no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).  Passou a manter contatos com  Vladimir Palmeira, Franklin Martins e uma série de outros que acabaram seqüestrando o embaixador americano. Com esses contatos logo passou a ser o secretário político do MR-8.

Em dezembro de 1968, Juca Ferreira afirma que foi eleito presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - Ubes, o que é contestado por ex-militantes do movimento secundarista.

 De volta a Salvador, em outubro de 1970, a polícia encontrou-o na casa dos pais, durante uma rápida visita, quando foi preso. Na prisão encontrou-se com o seu delator e o convenceu a mudar seu depoimento, inocentando-o.  Em conseqüência acabou sendo solto e, novamente, voltou para a  clandestinidade.

 No  Rio de Janeiro  passou a desenvolver uma série de ações armadas, em geral assaltos a bancos, fábricas, supermercados.

Com a prisão de vários militantes, a estrutura do MR-8 estava esfacelada. Muitos haviam sido presos, alguns mortos e outros se refugiado no exterior. Nessa ocasião, a organização contava, apenas, com pouco mais de 15 militantes para realizar suas atividades, passando a atuar “em frente” com outros grupos. Em contrapartida, crescia o grupo do MR-8 no exterior, que contava com os militantes que fugiram para o Chile e com a adesão de membros de outras organizações. Grande parte do comando estava no Chile e as palavras de ordem do MR-8 passaram a ser ditadas daquele país.

 As divergências eram evidentes e havia uma divisão clara entre “militaristas” - que defendiam o imediatismo revolucionário - e “massistas” que, primeiro, queriam preparar melhor as massas.

 Em novembro de 1972, em Santiago do Chile, a organização convocou uma assembléia-geral, com o comparecimento de seus principais militantes, onde se oficializou o “racha”. Em dezembro, durante três dias, os “massistas” realizaram reuniões preparatórias para a assembléia que fariam ainda nesse mês, a qual foi denominada Pleno.

           No artigo primeiro dos “Estatutos Provisórios” aprovados no Pleno, o MR- 8 definia os objetivos da organização:

“Somos uma organização política marxista-leninista, cuja finalidade é contribuir para a criação do partido revolucionário do proletariado no Brasil, que assuma a vanguarda da luta da classe operária e da massa explorada, pela derrubada do poder burguês, pela supressão da propriedade privada dos meios de produção e pela construção da sociedade socialista como transição para a abolição da sociedade de classe e o ingresso numa sociedade comunista.”

          Em 1973, João Luiz Silva Ferreira - Juca Ferreira - fugiu para o Chile para encontrar companheiros de exílio e assumiu papel de destaque.

         Após o Pleno, a organização desenvolveu suas novas atividades com a direção geral dividida em duas seções:  

a) do exterior (no Chile):- composta por João Luiz Silva Ferreira - Juca Ferreira -, Carlos Alberto Vieira Muniz, João Lopes Salgado e Nelson Chaves dos Santos;

b) a do interior (no Brasil) – composta por Franklin de Souza Martins e Sérgio Rubens de Araújo Torres.

          Em fevereiro de 1973, Franklin retornou ao Brasil, instalando-se em São Paulo e estruturando um Comitê Regional, dirigido por José Roberto Monteiro e Albino Wakahara, que passou a imprimir o jornal O Manifesto.

          A queda do presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dificultou os planos iniciais da organização, com seus militantes fugindo do Chile e se reagrupando em Paris.

João Luiz Silva Ferreira - Juca Ferreira -, ao ser surpreendido pelo golpe contra Allende, seguiu para a Suécia onde viveu sete anos.  Durante esse tempo, fez um curso de  nove meses para se formar em sociologia na Sorbonne.


          Com a anistia, Juca Ferreira voltou ao Brasil em 1981 e hoje é ministro do governo Lula. 

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