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Por Katia Correia
Os 20 anos de ditadura militar e os reflexos do período na sociedade brasileira, somados a uma seqüência de governos auto-intitulados "de esquerda" – em especial os dois mandatos consecutivos de Luiz Inácio Lula da Silva, marcados pela alta popularidade do chefe de governo e pela bandeira dos programas sociais – provocaram um radical encolhimento no espaço ocupado pela direita no espectro partidário do país.
Nos Estados Unidos pós-11 de setembro e na União Européia o conservadorismo voltou ao poder, quatro décadas depois do emblemático ano de 1968, auge da resistência ao regime militar, em nível nacional, e dos protestos ligados a movimentos de esquerda, em todo o mundo. No Brasil, esse mesmo pensamento murchou. E empobreceu o debate político. Ao menos no que diz respeito à representação partidária, à sua presença dentro do Congresso.
– De repente, ninguém é de direita, todo mundo é ‘centro’ – ironiza o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), ele mesmo um dos raros baluartes da chamada extrema-direita no Parlamento.
Pejorativo
A carga pejorativa sobre a direita em comparação à celebração da esquerda seria, em parte, reflexo da ditadura militar, acredita o deputado. Direita era quem estava a favor do regime autoritário e anti-democrático. Já a esquerda ficou identificada com quem se opôs ao comando implementado pelo golpe de 1964, defendeu os direitos humanos e filosofou sobre programas sociais. Muito embora esse bloco tenha pegado em armas para lutar pela ditadura do proletariado, observa Bolsonaro.
– Esse pormenor, entretanto, é esquecido e a idéia que se passa é que os esquerdistas, na época, defendiam a democracia. Nada mais incorreto – reclama o deputado.
A mudança de nome do Partido da Frente Liberal (PFL) que, no ano passado, mudou seu nome para Democratas (DEM), ilustra a resistência que políticos brasileiros têm, hoje, em assumir uma orientação mais inclinada à direita do espectro ideológico. Mesmo mantendo intactos a estrutura partidária, ideário e principais líderes, a legenda antes conhecida como PFL mudou para se livrar da imagem ligada à direita - mais particularmente com a Arena, partido que serviu de sustentáculo do regime militar, nos anos de chumbo - e com o liberalismo. Expurgado do nome da legenda, mas ainda defendido por ela.
Para Dom Bertrand de Orleans e Bragança, membro da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Prosperidade (TFP) e coordenador do movimento Paz no Campo, contraponto ruralista ao Movimento dos Sem Terra (MST), a transformação do PFL em DEM dá a medida do vácuo que existe na representação política do pensamento conservador.
– Não há no Congresso, hoje, nenhum parlamentar que possa ser considerado como um expoente do pensamento de direita – acredita Dom Bertrand.
Segundo ele, muito dessa ausência do pensamento conservador no Parlamento é reflexo do que seria uma tática da esquerda de colar na direita a identificação com movimentos como o nazismo e o fascismo.
– O que é uma total inverdade – argumenta. – O nazismo sempre foi uma expressão do socialismo, do comunismo. Este sim um regime que matou milhões de pessoas em todo o mundo. O resultado dessa contra-propaganda de esquerda foi o gradual esvaziamento da direita na representação partidária. Os políticos hoje podem até defender a livre iniciativa, a propriedade privada e o Estado mínimo. Mas tem vergonha em assumir essas bandeiras como pensamento conservador