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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Yes, we have Generals II

Sr Ministro Nelson Jobim,

No início, tive confiança em V. Exa. como Ministro da Defesa. Mostrou interesse pelas nossas coisas. Chegou até a vestir uma farda do Exército. Pensei que fosse lutar por nossas reivindicações. Mas tudo que é bom dura pouco. E não foi diferente. Em pouco tempo, V. Exa. colocou um esparadrapo em nossas esperanças. Preferiu os guerrilheiros aos soldados, a mentira à verdade. Os guerrilheiros se inspiraram em regimes totalitários e os soldados, nas cores da democracia. E é essa democracia que hoje garante a eles o direito de andar pelos palácios. Essa é a democracia do soldado, mas não a do guerrilheiro. Para V. Exa. o soldado é o vilão, o guerrilheiro o herói. Pelo visto, senhor Ministro, não interessa a V. Exa. defender esse soldado, que tem dado o seu suor pelo Brasil, a sua vida pela liberdade. Esse soldado é o mais fiel, puro e dedicado trabalhador. Seu olhar está nos interesses do país como a fé está na alma do monge. A caserna é o seu lar, a dignidade o seu lema, a servidão o seu ideal. O soldado, senhor Ministro, é a expressão pura de um cidadão de bem, encharcado de virtudes e monitorado por ideais. Naturalmente, V. Exa. não sabe quanto ganha um Tenente, não conhece suas dificuldades, ignora o choro de uma criança ou o lamento de uma esposa. Esse soldado, corroído pela dor, busca refúgio no silêncio das matas, na solidão das fronteiras, nos locais distantes, onde os apelos se calam. Certamente, o senhor não sabe nada disso, porque só conheceu as rosas, não as roseiras. Não pode avaliar a vida de um soldado, porque nunca foi um deles. Quando as esposas de militares afirmaram para V. Exa, em audiência, que um Tenente ganha menos que um soldado da Polícia, o senhor lhes disse que não gostava de comparações. As desigualdades e as injustiças, senhor Ministro, só são conhecidas por meio do estudo comparativo. O senhor não gosta de comparações, porque elas lhe são desfavoráveis. Pelo visto, não está interessado nas injustiças salariais do militar. Sabe que ele jamais deixará de cumprir o seu dever, como outros fazem; que a sua obediência é mais forte do que a sua arma. Sabe que o soldado é idealista e todo idealista vive de sonhos e não de realidades. Garanto que V. Exa. nem sabe o que é Fusex, que os nossos filhos têm dificuldade de acesso à Universidade, que a família militar está vivendo de sacrifício, que as Forças Armadas não podem defender o Brasil. Garanto que V. Exa. nunca visitou um soldado no Hospital, embora tenha tido tempo para assistir ao lançamento de um livro que difama a verdade, que denigre a imagem do soldado de quem V. Exa. é o Comandante. Não adianta vestir o uniforme. O que importa não é a farda, mas o espírito que está dentro dela. Parece que seu espírito, senhor Ministro, está mais perto do palácio do que da caserna. Enquanto a maioria das categorias profissionais tem seus aumentos de salário retroativos, e o senhor bem sabe disso, os nossos são sempre no futuro. Pelo visto, V. Exa. não acha vergonhoso um Tenente ganhar menos do que um soldado da Polícia. Se acha, por que não faz nada? Se não faz é porque considera o Tenente menos competente e menos importante que o soldado. Não é o soldado que ganha muito, mas o Tenente que ganha pouco. A verdade, senhor Ministro, é que estão pisoteando o soldado, acabando com a profissão. O pior é que V. Exa. é parte conivente dessa tragédia. É surdo e mudo diante das nossas reivindicações. É incapaz de defender os militares com a mesma veemência com que defendeu os magistrados. Depois, ainda acha ruim quando nossos chefes de verdade ignoram V. Exa. nas cerimônias. Não adianta vestir o uniforme, se não possui a virtude do soldado, se não defende o seu interesse. Está tão distante de nós como o castelo está da choupana.

Gen R1 José Batista de Queiroz