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sábado, 20 de outubro de 2007

CARTA DE SARGENTO DO EXÉRCITO AO ministro da defesa

Ao Dr. NELSON AZEVEDO JOBIM*

Ministro de Estado da Defesa

Senhor Ministro,

Tenho a honra de dirigir-me a V. Exª., para apresentar os cumprimentos pela assunção de tão importante cargo. A julgar pelas suas primeiras ações e palavras, certamente será uma experiência que enriquecerá muito sua biografia.
A finalidade precípua desta missiva é informar a V. Exª. a situação caótica por que passam as Forças Armadas.
Os militares federais são disciplinados, mas enganam-se os que pensam que são obtusos e não têm visão de Estado, além de conhecimento político suficiente pra separar o joio do trigo.
Coincidências ou não, na época em que existiam os ministérios militares as instalações e as tropas não viviam em tanta penúria como atualmente.
Exponho, abaixo, as ações de governo que, na minha ótica, foram responsáveis pelo atual descaso com as Forças Armadas do Brasil. Em países desenvolvidos elas são consideradas baluartes da soberania.
A situação das Forças Armadas está insuportável em termos orçamentários. As perspectivas de melhorias estão cada vez mais distantes. O orçamento seguidamente vem sendo diminuído e os investimentos estão rareando. O que vemos hoje é a tentativa imunda de aniquilar a Instituição que é da Nação e que foi construída com sangue de heróis anônimos ao longo da história.
Segundo levantamento, o valor proposto pelas Forças Armadas para custeio da modernização dos equipamentos foi de R$ 14,6 bilhões, mas, como acontecem todos os anos, já estão previstos cortes em torno de 60% do valor. Só como exemplo, a Força Aérea Brasileira só consegue operar com 37% de seu poder aéreo e todos seus aviões têm mais de 15 anos de uso. Na Marinha, de toda
sua frota, apenas 10 navios estão em condições de combate. No Exército, Força mais odiada pelos revanchistas, a sucatagem bélica é ainda maior.
Segundo levantamento, por falta de investimentos, o Programa Nuclear Brasileiro já provocou um prejuízo de 1,1 bilhão de dólares norte-americanos.
As Forças Armadas do Brasil estão tão desmoralizadas que até o índio Evo Morales invadiu as instalações da Petrobras. Nosso fraco presidente, que só se preocupa com o 'di cumê', ainda deu razão a ele. Com esta demonstração de fraqueza, a qualquer momento o Paraguai poderá ocupar a Usina Hidrelétrica de Itaipu por saber que nossas Forças Armadas não estão em condições de reagir.
Alguns atos perpetrados contra as Forças Armadas são frutos do revanchismo, da política de afastamento dos militares das decisões nacionais.
Particularmente, até fico satisfeito com esse distanciamento. Afinal, termos contato com chorumes da vida pública como José Dirceu, José Genoíno, Severino Cavalcanti, Luiz Inácio Lula da Silva, Renan Calheiros, entre outros, além das sanguessugas e dos mensaleiros, causa-me asco. Aliás, muitos deles são seus amigos e recorrem aos seus préstimos jurídicos quando se vêem descobertos em suas vilanias, como tem sido amplamente publicado em
grandes jornais e revistas. Sabemos que o advogado Eduardo Ferrão, que defende o senador Renan Calheiros, foi seu sócio em advocacia.
Na atual conjuntura política, onde quase tudo é fantasia, onde ninguém quer largar as 'tetas da vaca', as autoridades não se preocupam se já ocorreram suicídios de militares em várias regiões do Brasil por não conseguirem saldar dívidas, tal qual o ocorrido aqui em Brasília no ano de 2005, onde um jovem sargento não possuía dinheiro suficiente para comprar remédios para a filha adoentada. Uma das reclamações que ouvi em seu velório foi de que ele almejava uma transferência para saldar suas dívidas, mas sempre lhe fora negada.
Enquanto isso, as verdades históricas estão sendo distorcidas. Fato notório foi o discurso que V. Exª. fez no lançamento de um livro patrocinado por esse governo marcado por escândalos. Tal livro começa a mentir no próprio título: 'Direito à Memória e à Verdade'. Não compreendo como pode posicionar-se de arauto de parte da esquerda bem remunerada com o dinheiro público. Os militares, digo pela formação que tenho não se intimidarão com suas palavras ameaçadoras. Estão acostumados com a tentativa de igualá-los à laia dos péssimos políticos que, como urubus, sobrevoam a Praça dos Três Poderes, vindo de todas as regiões do País.
Entretanto, a sociedade conhece a verdade dos fatos. A credibilidade alcançada pelas Forças Armadas só aumenta. Não precisamos utilizar os mecanismos espúrios tal qual o de fazer 'currais estomacais', coisa que o presidente da República é contumaz ao distribuir alimentos para conseguir votos. O que V. Exª., precisa saber é que seu cargo é político, não militar.
Só como exemplo, se um coronel com curso de Estado-Maior, mesmo estando a um dia da promoção, vestir a farda de general será punido. Já V. Exª., demonstrando a prepotência de sempre, infringiu o Estatuto dos Militares ao usar indevidamente a farda de general de quatro estrelas (posto máximo) e ainda se apresentar com ela no Exterior. Entendo que *só pode ser frustração por não pertencer ao glorioso Exército Brasileiro*, instituição ilibada e comprometida com a legalidade, com o patriotismo. Lembro que intervenção militar em prol do bem-estar do País é ato democrático.
Conheço sua atuação como Depuppydo Federal. Posteriormente, foi alçado à condição de 'grande jurista', não por consenso, por votação, mas por escolha de FHC. Sua atuação no Supremo Tribunal Federal foi, segundo minhas observações, lastimável. São de domínio público seus pedidos de 'vistas aos autos' quando o assunto necessitava ser esfriado nas votações. A revista
Veja noticiou sua intervenção em julgamentos onde, na qualidade de presidente daquele Tribunal, tentava levar seus pares ao constrangimento.
Quando a história for escrita sobre este período, ficará a triste lembrança de sua atuação como político e como jurista. Político não dever ser juiz, é incoerência porque o magistrado competente deve ser imparcial, qualidade que não existe nos políticos do nosso País.
Informo a V. Exª. que os militares não têm medo de sua estatura física. Até porque ética não se avalia por este aspeto. O que necessitamos é de investimentos nas Forças Armadas e um salário digno, proporcional aos que estão sendo pagos a outros profissionais da União, apenas isto. Chega de pagar alto preço por ter evitado que este País se transformasse numa ditadura comunista.
Passo a expor alguns assuntos afetos à pasta dirigida por V. Exª., os quais considero responsáveis pelos caos nas Forças Armadas.

* 1. A QUESTÃO SALARIAL *

O salário dos militares é algo espúrio porque expressa toda a sordidez, toda a cachorrada, toda a canalhice do governo federal em relação às Forças Armadas. Entendo que V. Exª. assumiu há pouco tempo o Ministério da Defesa. Entretanto, nós militares acreditamos mais nas instituições do que nos homens que as conduzem.
Tomei conhecimento dos gastos do governo federal com itens que julgo não serem prioritários, além de reajustes salariais para determinadas categorias que já são bem remuneradas, pra não citar o aumento salarial absurdo aos comissionados do governo federal que pagam dízimos ao PT. Enquanto isso, os
militares federais permanecem com seus salários defasados há vários anos.
Muito se tem falado sobre a questão salarial militar. Entretanto, há considerações que ultrapassam a mera planilha de custos financeiros. O salário pago aos militares, em especial aos das Forças Armadas, refletem amplos fatores, os quais deveriam ser levados em consideração antes de qualquer análise conjuntural. São eles:
*a.* *Distribuição de Rendas*
Os militares das Forças Armadas estão em todos os pontos do território nacional. É uma classe de servidores que representam a presença do Estado nos mais diversos e longínquos pontos geográficos. Nos locais mais inóspitos, lá estão os militares. Este fator de unidade nacional tem de ser levado em consideração por ocasião da estruturação salarial.
O Brasil possui uma abissal concentração de rendas. Isto faz com que nosso País figure, tristemente, entre as piores nações em termos de distribuição de rendas, provocando um índice abaixo do crescimento econômico de outras nações menos importantes no contexto mundial. Uma das formas de distribuição de rendas é também o salário do militar. Há localidades em que a economia gira em torno dos quartéis. E quartéis não existem sem os militares.
Eles são responsáveis pelo aumento do comércio de bens alimentícios, vestuários, aluguéis, venda de combustível, telefonia, serviços públicos, etc.
Pode-se inferir que a má distribuição de rendas do País aumentou quando houve maior defasagem salarial em relação aos militares. Em alguns municípios esta relação é facilmente visível. Há cidades em que a manutenção de um ou dois quartéis é imposição, pressão política. Este fato, infelizmente, não é levado em consideração quando se analisa a questão salarial do militar das Forças Armadas.
Para não ver seus familiares passando privações em conseqüência das despesas com aluguel, passagens, alimentação, vestuário, educação, etc., itens básicos para a sobrevivência de qualquer família, os militares de baixa patente e os graduados contraem dívidas junto a instituições financeiras ou caem nas mãos de agiotas. Será que V. Exª. sabe que toda queixa apresentada nos quartéis sobre dívidas é considerada transgressão disciplinar e pode ser punida até com prisão? Na minha ótica, os que deveriam ser presos são os responsáveis pela política revanchista praticada contra a classe.
Experimente V. Exª. sair de uma escala de serviço de 24 horas e ainda permanecer no expediente por no mínimo mais 8 horas e depois enfrentar mais três horas dentro de um ônibus ou trem no retorno ao lar. O militar, por falta de dinheiro para alugar uma residência próxima ao quartel, mora longe dele. Junte tudo isto e, de quebra, coloque ainda a sensação de não ter um comandante ou ministro que lute pela justiça salarial nas Forças Armadas.
Fazendo isto, com certeza, o senhor terá uma ligeira noção do que é ser militar na atualidade. Ser militar não é se fantasiar com uma farda de general e posar para os fotógrafos da imprensa.
A situação é desesperadora. Temo que a indisciplina ronde as ações dos militares que não acreditam nas promessas de melhoria salarial. Afirmo que a crise dos controladores de vôo deveu-se à péssima situação em que foram colocados: sem salário decente e trabalhando com civis que exercem as mesmas funções, mas que recebem cerca de três vezes mais que um sargento em início de carreira. Se houve erros dos controladores de vôo, houve também a motivação à indisciplina por parte da indiferença de algumas autoridades. Um dia, com certeza, 'a mão que chicoteia receberá um duro golpe'.

*b. Educação*

Os salários pagos, atualmente, não proporcionam condições para que os filhos dos militares tenham uma educação digna. Estamos vivendo em nossos dias a onda do conhecimento, ou seja, a escola, a cultura, o conhecimento é a base de tudo. As escolas públicas sofreram com o abandono dos governos. As praças
das três Forças, salvo raríssimas exceções, já não conseguem manter filhos estudando, já não conseguem alimentar-se dignamente em virtude da necessidade de manter as contas em dia, mormente as taxas cobradas pelo próprio governo. Neste contexto, o militar que possui filhos fica num dilema: o salário é insuficiente, porém a educação é primordial. Neste conflito, ele opta, quando pode, por empréstimos financeiros.
Nos primeiros anos da carreira militar, há uma situação de dificuldade que se agravará no futuro. Dez anos depois de iniciada a carreira, o militar começa a ter que se preocupar com a educação de seus filhos. Estes entram numa fase do ensino em que o diferencial entre uma escola boa e uma escola ruim começa a produzir frutos no momento crucial: o ingresso numa
instituição de ensino superior.
Os Colégios Militares eram uma boa opção para os filhos dos militares porque possuem excelência no ensino. Entretanto, a admissão foi estendida aos filhos de civis. Nisto não há nada de errado, mas as vagas foram limitadas para os filhos dos militares que já sofriam para conseguir matrículas.
A sociedade civil organizada deveria exigir melhor ensino nas instituições públicas, e não procurar os benefícios que a classe militar oferece.
Havia lei que assegurava aos dependentes de funcionários públicos (civis e militares) matrículas em universidades públicas. Tal dispositivo legal tinha por objetivo garantir uma melhor educação aos dependentes daqueles que, por imposição da carreira, estavam impedidos de se estabelecer em determinada localidade. Com o julgamento pelo STF, Corte da qual V. Exª. foi presidente, este benefício foi injustamente extinto. Os mais prejudicados foram os militares. Os funcionários civis têm, em média, vencimentos superiores aos pagos aos militares. Desta forma, a maioria dos dependentes dos servidores civis, particularmente dos poderes Legislativo e Judiciário, tem condições de cursar uma universidade privada ou até mesmo ingressar, por concurso, em universidade pública porque pode pagar os melhores cursos preparatórios. A universidade pública tornou-se fator de exclusão social, mormente para os militares.

* c. Moradia*

Outro fator importante relacionado aos salários dos militares é a questão da moradia. Com o achatamento dos vencimentos, a situação se tornou caótica. As transferências para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro são consideradas punições. Naquelas cidades, os militares têm a certeza de que residirão bem distantes do local de trabalho. Quando o militar consegue morar perto dos quartéis, não tem uma situação mínima de conforto, pois a maioria vai morar em favelas. Há militares enviando suas esposas de volta à casa dos pais por não poderem oferecer-lhes vida digna; há muitas esposas e filhas de militares fazendo biscates como domésticas para aliviar a situação de penúria reinante nas famílias; há casos em que duas famílias de militares dividem o mesmo imóvel, para dividir também o valor do aluguel, numa franca agressão aos princípios da dignidade da pessoa humana.
Os Próprios Nacionais Residenciais (PNRs), principalmente aqueles ocupados pelas praças, estão sucatados, sem possuir a adequada manutenção. Quem mora em PNR está numa aparente melhor situação em relação aos que pagam aluguel.
Cabe ressaltar que as verbas de manutenção dos PNRs advêm de descontos em folha de pagamento do militar ocupante. Para exemplificar a situação perigosa em que vivem os militares de baixa patente e principalmente as praças, não é demais lembrar que o bloco 'H' da SQN 306 teve, há pouco tempo, suas estruturas comprometidas, com possibilidade de desabamento.
O orçamento das Forças Armadas é um dos pontos a serem destacados.
Sucessivos governos têm diminuído o orçamento do Ministério da Defesa.
Por sucessivos anos tal situação vem se agravando. No ano de 2006, os únicos ministérios que sofreram cortes em relação a 2005 foram o dos Transportes e o da Defesa. Em qualquer país civilizado o presidente da República seria responsabilizado por deixar a nação sem as condições mínimas de garantir a defesa do território nacional.

*d. Empréstimos Financeiros*

Há um segmento que lucra com a penúria dos militares: as instituições financeiras. De fato, pelos baixos salários recebidos, a quase totalidade dos militares está comprometida com empréstimos. Estas instituições utilizam o desconto em folha de pagamento, portanto o risco é quase zero. O militar recorre a esta estratégia porque, por disposição legal, está impossibilitado de exercer qualquer outra profissão. Torna-se assim o escravo perfeito*:
* mesmo tendo inteligência, não pode ao menos procurar se libertar deste cativeiro. A principal instituição financeira que atua neste mercado é a Fundação Habitacional do Exército, por intermédio da POUPEX. Por coincidência, esta instituição é dirigida por oficiais-generais. Ocorre o seguinte*:
* quando o militar adquire um empréstimo, e por ter risco quase zero, os juros estão, na média, abaixo dos de mercado. Após um determinado número de prestações pagas, o militar renova o empréstimo, o que provoca uma verdadeira ciranda, com a qual todo banqueiro sonha.
Salário defasado, descontos em folhas de pagamento, imposto de renda, impossibilidade de se ter outra fonte de renda, etc., são fatores ideais para o enriquecimento dos bancos. Foi anunciado que um determinado banco popular teve o maior lucro de sua história. A POUPEX possui um grande número de associados porque, segundo fui informado, os comandantes de quartéis condicionam o prosseguimento na carreira a adesão do militar àquela instituição.
*e.* *Plano de Saúde*
* *Uma verdade que precisa ser proferida é que os militares custeiam o fundo de saúde que os atende. É mais uma incidência sobre os já combalidos vencimentos. Diferente de outros planos de saúde a cada atendimento ao militar ou ao seu dependente é pagos 20% do valor, proporcionalmente ao posto ou graduação, além dos demais descontos mensais para manter seu fundo de saúde. Todos os atendimentos médico-hospitalares aos recrutas, além de medicamentos, são custeados por militares contribuintes do Fundo.
Assim, quando se fala em 'soldado cidadão' está se falando em maior gasto do fundo de saúde e, conseqüentemente, o sistema se torna de qualidade inferior. Mais um golpe na vida da família militar.
*f. Transferências*
Devido à diminuição do orçamento do Ministério da Defesa, as movimentações dos militares estão limitadíssimas. A unidade nacional necessita que oficiais e praças tenham uma visão ampla dos problemas nacionais para melhorar a defesa do País, caso sejam convocados para tal. Acontece que as movimentações funcionam também como um bálsamo na situação de penúria.
A indenização que o militar recebe pela transferência serve para o custeio da mudança e muitas vezes para o pagamento de dívidas. Se o orçamento continuar decaindo, só restará ao militar afrontar de forma aberta o Estatuto dos Militares, ou seja, arrumando uma segunda ocupação por absoluta legítima defesa da sobrevivência.
* 2. BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS*
Quando nos baseamos nos salários pagos aos militares e a outras categorias do serviço público, constatamos que os mesmos estão defasados. Esta defasagem não é própria dos dias atuais. O que acontece é que os salários, concretamente, estão em processo decrescente há aproximadamente 20 anos. Já havia um processo de estagnação no governo José Sarney, o qual foi agravado pelo Plano Cruzado.
* - Do Plano Cruzado até nossos dias*
O Plano Cruzado I (de fevereiro a novembro de 1986) foi considerado o primeiro choque heterodoxo dado na economia pelo então ministro Dilson Funaro. Foi o principal responsável pela atual penúria salarial das Forças Armadas. O congelamento de salários e de preços, conforme se propunha, alcançou apenas os salários do funcionalismo público. Os preços foram artificialmente sendo mantidos congelados. Na prática, o que ocorria era um aumento discreto, ou um desabastecimento generalizado. Em termos salariais, as Forças Armadas ficaram a reboque dos acontecimentos econômicos: salários congelados, como os de todos os funcionários públicos, e sem perspectiva de melhoria. Coincidentemente, iniciaram-se os preparativos para o pagamento de imposto de renda pelos militares, ou seja, mais um desconto nos combalidos salários da classe.
O Plano Cruzado II deu um alento aos militares porque previa a recomposição salarial a fim de acompanhar os índices inflacionários. Os vencimentos então passaram a ter uma situação menos grave do que a experimentada no Plano Cruzado I. Ressalta-se que naquela época prometia-se a equiparação com os salários pagos nos três poderes: a famigerada 'isonomia', que nunca houve.
Os sucessivos planos econômicos pós Dílson Funaro, conforme os do Bresser Pereira e do Mailson da Nóbrega mantiveram a situação anterior. Os militares sempre estavam com seus salários abaixo dos índices anteriores a 1985.
A Lei de Remuneração dos Militares de 1991 não modificou o aspecto geral de baixos salários. Houve alguns avanços discretos, porém a mesma situação vivida desde 1985 permaneceu.
Em 1997, ocorreu um fato que viria a repercutir até nossos dias:
a greve da PM de Minas Gerais. Pela primeira vez uma corporação militar mostrava à sociedade a verdade sobre sua situação salarial. Este movimento foi o estopim para as greves que se sucederam com policiais militares de diversos estados e até mesmo do Distrito Federal.
A Lei de Remuneração dos Militares de 2000, num primeiro momento, trouxe certo alento, mas com o passar dos anos suas falhas foram se agravando, fazendo com que hoje a situação seja desesperadora.
*3. CONCLUSÃO*
A questão salarial militar é algo complexo. Seu alcance perpassa os campos econômicos, sociais, educacionais e de defesa territorial. As nações desenvolvidas valorizam seus militares. O Brasil está na contramão da história. Um salário digno é o mínimo que se quer. Hoje os abnegados militares vivem de aparências, pois mesmo com os baixíssimos salários e proibidos de exercerem outras profissões, eles continuam com os sapatos engraxados, com o fardamento limpo e bem passado, além de manter a fivela do cinto brilhando igual a ouro.
O Poder Executivo paga os salários mais baixos entre os três Poderes e os militares estão entre as categorias onde há maior incidência dessas carências. Um bom começo seria colocar os militares no patamar da sua vocação de defender a Pátria com o sacrifício da própria vida, segundo seus juramentos.
Há quem diga, senhor ministro, que o orçamento do Exército só dá pra custear despesas com alimentação e pessoal, aliás, nem pra alimentação, haja vista que a meia jornada de trabalho (meio expediente) que vem sendo adotada, chamada de economia de rancho, é para economizar com alimentação.
Sugiro a V. Exª., autoridade administrativa das Forças Armadas, procurar saber onde o governo aplica os milhões de reais arrecadados através dos descontos mensais de cada militar a título de Pensão Militar e Fundo de Saúde do Exército (FUSEX). Como não tenho a máquina pública à mão, não informo o total geral, mas posso me basear nos descontos efetuados no contracheque de um capitão meu amigo, da Reserva.
Descontos de Pensão Militar e Funda de Saúde do Exército *:* R$ 1.016,28 (mil e dezesseis reais e vinte e oito centavos).
Veja, senhor ministro: este desconto mensal é de somente um capitão. Sugiro que V. Exª. multiplique este valor pelo número de capitães do Exército para chegar a um valor relativo a somente capitães. Faça o mesmo cálculo em relação aos generais de exército, de divisão, de brigada, aos coronéis, aos tenentes-coronéis, aos majores, aos primeiros e segundos tenentes, aos subtenentes, aos 1º sargentos, aos 2º sargentos, aos 3º sargentos, aos cabos, aos taifeiros e aos soldados que por motivos diversos conseguem ser reformados. V. Exª. surpreender-se-á com a fortuna arrecadada dos militares.
Insisto em perguntar: para onde vai todo esse dinheiro, toda essa fortuna?
Para o caixa 2 de campanha ou está sendo desviada para outras atividades?
Portanto, não se justifica o governo argumentar que o orçamento do Exército é somente para pagar vencimentos e alimentação. A fortuna que V. Exª. conhecerá com os cálculos deveria estar no Fundo do Exército, justamente para pagar as pensões, os salários da Reserva de Guerra e custear os gastos com a saúde e a alimentação dos militares. Acredito que tudo está sendo arquitetado para nos levar à situação de receber somente cesta básica, nada mais. Dessa forma, nossos militares estão sendo conduzidos para a agricultura, para plantar abóboras, como aconteceu com um grande exército da Europa. Acredito que quando os generais estiverem entrando também na fila da cesta básica reagirão, mas poderá ser tarde demais.
Portanto, senhor ministro, de nada resolverá V. Exª. vestir indevidamente uniforme de general e dizer com vaidade que tem 1,90m de altura.
Afinal, só será interpretado como grande se resolver durante sua gestão o grave problema de falta de investimentos nas Forças Armadas e a questão salarial dos militares, mormente dos círculos mal remunerados como os oficiais de baixa patente e as praças das Forças Armadas.
Só pra lembrar a V. Exª., um dos maiores chefes militares que o mundo conheceu, e que sempre encabeçou a relação dos historiadores como gênio da arte da guerra, tinha somente 1,62m de altura. Promovido ao posto de general-de-brigada aos 26 anos de idade, foi sinônimo de competência militar e liderança. Ele sim, Napoleão Bonaparte, não obstante sua baixa estatura física foi grande!
Aproveitando o ensejo, posso citar outro que foi grande e que tem seu sobrenome*:
*Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (Tom Jobim), criador da imortal 'Garota de Ipanema'.

Os revanchistas atualmente no poder conseguiram vencer uma batalha, mas a guerra está longe de terminar, haja vista que temos força moral e intelectual para continuar a luta.
Em face do exposto, pergunto às autoridades militares o seguinte*:
* até quando os chefes militares ficarão amarrados ao açoite invisível dos cargos, das mordomias, das nomeações? Até quando continuaremos a segurar os chifres da vaca para que os falsos representantes do povo nos três Poderes continuem
mamando em suas tetas?
Segundo Lula, no início de seu governo, 'o capitão do time é José Dirceu', aquele ex-guerrilheiro que estudou em Cuba e foi recentemente cassado pela Câmara dos Depuppydos.
Já dá pra analisar que esse governo imoral pretende substituir as Forças Armadas por uma Guarda Nacional, como fez o sanguinário ditador Sadan Russein, enforcado recentemente por violações dos direitos humanos no Iraque. Alerto *:
* aqui não será diferente. Quem viver verá!
Por fim, informo a V. Exª. que desta vez prefiro estar errado, quero acreditar que esta situação salarial será corrigida. Se o senhor contribuir para o fim desta agonia terá, de público, meus aplausos e os de milhares de pessoas que, direta ou indiretamente, aguardam com avidez o fim deste suplício.
Sinceramente, que Deus abençoe V. Exª. e que sua permanência à frente do Ministério da Defesa contribua para que a família militar não se decepcione mais uma vez.

Encerro dizendo que não tem sentido admitir que as Forças Armadas, por mais obedientes que sejam, e até por respeito à sociedade, morra de fome com um poderio bélico à mão.

Respeitosamente,

ABÍLIO TEIXEIRA*
Sargento do Exército
Cidadão Honoirário de Brasília
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