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quarta-feira, 14 de junho de 2006

MLST, PT e Foro de São Paulo

MLST, PT e Foro de São Paulo por Ipojuca Pontes em 12 de junho de 2006

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“Lula vai que nem cavalo de 7 de setembro,cagando e andando e os outros olhando”.


Antonio Boqueira, líder do MLST

O PT, partido de dupla moralidade (que diz uma coisa e faz outra), logo após os atos criminosos que destruíram a Câmara, levada de roldão pelos militantes do MLST, a primeira providência que tomou foi retirar do seu site, na Internet, parte da página que mostrava “Quem é Quem” na nova Comissão Executiva Nacional, presidida pelo lustroso Ricardo Berzoini. Explica-se a retirada: é que, em plena campanha da reeleição presidencial, constava no site do partido o perfil biográfico de Bruno Maranhão, líder do sanguinário quebra-quebra do dia 6 e figura eleita para cuidar da Secretaria dos Movimentos Sociais, setor considerado estratégico na hierarquia executiva do PT.
Só para mostrar o que PT julga conveniente esconder (inutilmente, de resto), reproduzo, na íntegra, o perfil do líder agitador: “Apesar de ter nascido em uma família de classe dominante pernambucana, desde os tempos de estudante de engenharia nos anos 60, Bruno Maranhão integrou-se à resistência armada contra a ditadura, passando pelos clandestinos PCB e Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Neste último, executou ações armadas como membro da guerrilha. Com o AI-5, caiu na clandestinidade, morando em “aparelhos” em vários Estados, mas terminou obrigado a deixar o país, exilando-se no Chile e, depois do golpe do general Pinochet, na França. Em 1979, com a Anistia, foi o primeiro dos pernambucanos exilados a voltar ao país. Menos de um ano depois, em 1980, ajudava a fundar o PT. Desde então, nunca mais deixou de fazer parte do Diretório Nacional.
Maranhão presidiu o PT de Pernambuco entre 1983 e 1985. No final dos anos 80, transferiu-se para São Paulo, atuando no PT Nacional e no Instituto Mário Alves, que fundou para dar suporte aos movimentos campesinos no país, com destaque para o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra) de cuja direção faz parte. De volta a Pernambuco, atua no apoio ao trabalhador do campo”.
O perfil exposto (e retirado) no site do PT não informava aos leitores que, além de violento, Bruno Maranhão era filho de usineiro e, quando na clandestinidade, assaltante de banco. Mas, em substância, o que vale ressaltar é que na última reunião do Foro de São Paulo, ocorrida em Porto Alegre, o tema do avanço incondicional da “reforma agrária”, na lei ou na marra, foi considerado pelos seus integrantes de vital importância e sua deflagração, no estratégico ano de 2006, de prioridade máxima “para se estabelecer o socialismo na América Latina”.
A palavra de ordem, proferida entre os militantes, foi a de se adensar as invasões em massa, na cidade e nos campos, quem sabe saltando-se da “guerra civil de baixa intensidade”- conforme proclamou em tempos idos Gilmar Mauro, um dos líderes dos Sem-terra - para o que os analistas da violência no mundo moderno estão chamando de “G4G” – a Guerra de Quarta Geração, onde não se distingue mais o que é guerrilha, guerra convencional, ação terrorista ou simples ato de provocação.
A propósito, William S. Lind, analista militar americano, classifica a Guerra de Quarta Geração como o vale-tudo bélico do Terceiro Milênio (que assimila e ultrapassa, por exemplo, a “blitzkrieg”, Guerra de Terceira Geração desencadeada por Hitler, baseada não no poder de fogo, mas na velocidade, surpresa e no deslocamento mental e físico do exército invasor), que anula o monopólio da exploração do Estado sobre a guerra, hoje, a olhos vistos, inquestionavelmente ordenada não mais pelos exércitos convencionais, mas por forças e entidades não-estatais, tais como a Al-Qaeda, as FARC, o PCC, o MST e MLST, “potências ideológicas” que priorizam a destruição do Estado-nação, considerado ilegítimo.
(Lembro, aliás, que, em data recente, numa palestra franqueada ao público no Sindicado dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, João Pedro Stédile, o líder do MST até então tido como o agente Número 1 do Terror Vermelho na vida rural brasileira, depois de encontro com Chávez, declarou alto e bom som: “Se me derem dois milhões de jovens militantes, eu faça uma revolução neste país”).
Em nota assinada pelo porta-voz André Singer, o Planalto deplorou o “grave ato de vandalismo”, enquanto Lula, ao cabo de excursão eleitoral pelo Ceará, telefonou para se “solidarizar” com o presidente da Câmara, o comunista Aldo Rebelo, parlamentar que recusou chamar a polícia para defender o congresso dos invasores bárbaros. Tudo, claro, jogo de cena, especialidade do partido-governo, hábil em conduzir no plano da ambigüidade o caos premeditado. Assim, ao tempo em que o governo distribuía nota oficial de contestação, eram exibidas em cadeias televisivas as imagens de vídeo em que invasores do MLST, ao planejar o quebra-quebra, se mostravam leais ao “companheiro” Presidente, condenando os partido de oposição – que, de resto, de oposição tem muito pouco ou quase nada.
Pior: no dia seguinte, os jornais estampavam as anotações de uma agenda do líder petista Bruno Maranhão, apreendida pela polícia, que envolvia abertamente o partido-governo na invasão da Câmara, deixando entrever que a União era a responsável pelo financiamento da ação criminosa, em especial, no pagamento de passagens, vale-refeição, pedágios, hospedagem e transporte, num total estimado em R$ 83 mil – dinheiro sacado do bolso do contribuinte.
Para concluir: só um inocente útil vai excluir do episódio de Brasília a ação planejada das revolucionárias entidades não-estatais, agindo de forma global, e acreditar que Maranhão fez tudo de sua cabeça, com ajuda de bate-paus e falsos Sem-terra. Ou ainda melhor: contestar que o Brasil não ingressou, de fato, no cenário belicoso da Guerra de Quarta Geração, a famigerada “G4G”.

O autor é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.